Tópicos de vida e obra de Comte

Pesquisa & Texto da autoria de João Ribeiro de A. Borba

out/2011

 

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Comte: fundador "oficial" da sociologia,
a ciência é melhor que a religião, e é merecedora de templos,
em que os cientistas deveriam ser venerados

 

 Qual a diferença entre a sociologia de Comte
e o socialismo de Saint-Simon?

Comte costuma ser celebrado como o fundador da Sociologia. De fato, foi o primeiro a propor oficialmente uma ciência com esse nome para o estudo das sociedades. Mas a proposta já existia antes extraoficialmente. Comte era assistente de Henri de Saint-Simon, o primeiro grande pensador socialista, e o projeto de criar uma ciência para o estudo da sociedade na verdade era dele.

Os dois brigaram porque tinham visões diferentes de coomo levar esse projeto adiante, e se separaram. Mas foi Comte quem levou o projeto adiante de maneira clara e organizada, colocando-o em prática. E levou a fama de criador da Sociologia.

Saint-Simon defendia um socialismo cristão utópico. Pretendia fundar já aqui, neste mundo dos vivos, uma sociedade alternativa nos moldes do que deveria ser o paraíso cristão após a morte. Saint-Simon queria promover transformações na sociedade, e como valorizava muito o desenvolvimento do conhecimento e da capacidade técnica dos seres humanos, achava que esta sociedade utópica teria que ser fortemente influenciada pelos sábios.

Mas além disso, Saint-Simon achava também que para realizar essa utopia seria preciso estudar a sociedade, aprender como ela funciona, para que as transformações fossem feitas de maneira eficaz. Por isso julgava necessário fundar uma ciência especializada no estudo das sociedades.

Para Saint-Simon, o amor cristão teria um papel fundamental na construção de sociedades utópicas como as que estava planejando. E o trabalho dos artistas seria importante no sentido de promover e difundir esse amor e essa inspiração social cristã.

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Comte começou a levar mais longe a ideia de que uma ciência dedicada a esturar a sociedade teria que ser especializada nisto. Por essa razão começou a defender a ideia de que essa ciência teria que ser dedicada exclusivamente ao estudo da sociedade, portanto teria que se separar da política, da arte e da religião.

Além disso, Comte começou a defender a ideia de que uma ciência teria que ser neutra para poder assimilar melhor os fatos sem influência de posicionamentos e sentimentos ou impressões subjetivas dos estudiosos. Com isto, ele reforçava ainda mais a necessidade de separar a futura ciência da sociedade de qualquer postura política ou religiosa, e da influência das artes. E no mesmo movimento também reforçava ainda mais suas diferenças em relação a Saint-Simon, que recusava a ideia de fazer dessa ciência uma especialidade separada dessas outras atividades.

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Por que Comte chamou seu
posicionamento de "Positivismo"?

O posicionamento de Comte valorizava não só a neutralidade científica, como também o progresso, que viria com a organização da sociedade baseada nessa ciência do social — para a qual acabou criando o nome de "Sociologia" com a qual passou a ser conhecida a partir daí.

Como esta seria uma ciência apoiada na observação dos fatos, do modo como eles estão postos na realidade e sem imaginar nada mais para além disso, decidiu chamar esse seu posicionamento de "Positivismo" — por isso dizemos que a Sociologia de Comte é "positivista".

E para divulgar melhor o seu Positivismo e a sua Sociologia Positivista, Comte criou um lema para o Positivismo que ficou famoso: Ordem e progresso! — Foi por influência de positivistas na história do Brasil que esse lema acabou marcado na bandeira do país.

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 A proposta de "neutralidade científica"
do positivismo deu certo?

Infelizmente, Comte a certa altura passou a sofrer crises de estresse e surtos psicológicos doentios, passando por momentos de forte depressão e de afloramento de tendências suicidas, e isto prejudicou fortemente o desenvolvimento de seu Positivismo.

Entre os efeitos de sua má saúde mental, começou a se voltar novamente para a religião, e chegou a fundar uma Igreja Positivista, tratando o conhecimento científico como se fosse algo religioso, e culturando religiosamente a memória dos grandes sábios da história da humanidade.

Com isto, a neutralidade do positivismo ficou contaminada de valores e posicionamentos inclusive defendidos com fervor religioso — o que gerou uma certa contradição com o que ele dizia a respeito do caráter mais primitivo do conhecimento de tipo religioso, que deveria ser superado pelo metafísico ou filosófico, e do caráter mais avançado do conhecimento científico, que estaria acima desse metatísico ou filosófico. Contradição porque Comte passou a tratar seu próprio conhecimento de nível avançado e científico como se fosse uma espécie de religião, de nível mais primitivo.

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Além do mais, graças a uma série de pressupostos mal refletidos e talvez um pouco de falta de autocrítica, no campo político sua proposta de neutralidade científica acabou se revelando um conservadorismo autoritário inconsciente ou disfarçado (o que significa que não conseguiu se manter neutra como dizia pretender, porque no fundo, em seus presupostos, já não era mesmo neutra).

Esse conservadorismo político embutido no positivismo de Comte se tornou muito claro a partir das formulações políticas de um de seus principais discípulos, Littré. E principalmente porque Littré fez isto sem distorcer a teoria original de Comte, seguindo de fato os mesmos pressupostos e preceitos. Pode-se dizer inclusive que o Positivismo de Comte produziu (e na verdade incentivou) o aparecimento de uma nova e agressiva forma de autoritarismo: a tecnocracia, que propõe uma concentração dos poderes políticos nas mãos dos técnicos, especialistas e cientistas em geral.

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Comte foi realmente o fundador da Sociologia,
como é considerado oficialmente?

Comte parece ter sido o primeiro a utilizar o termo "Sociologia" para a ciência nova que estava criando a partir das inspirações socialistas de seu mestre Saint-Simon (mas sem seguir esse socialismo, como já vimos). No entanto o fato de ter utilizado desse nome pela primeira vez para sua nova ciência não quer dizer que seja completamente justo atribuir a fundação disso somente a ele.

Na mesma época de Comte um adversário mais jovem e politicamente bastante radical, Pierre-Joseph Proudhon — o fundador teórico do anarquismo — estava desenvolvendo uma teoria sociológica paralela, diferente, muito mais complexa, mas também incomparavelmente mais refinadoa, prática e realista, e capaz de resultados muito mais aprofundados e detalhados. Proudhon a chamava de "Socioeconomia", e não de "Sociologia". E é interessante notar que sua "Socioeconomia" se parece muito mais com as teorias sociológicas que vieram depois doque aquela de Comte.

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Mas infelizmente, a "Socioeconomia" de Proudhon não recebeu a mesma atenção e interesse que a comparativamente simplória e ineficaz "Sociologia" de Comte. Ainda existem autores, como microssociólogo e filósofo do direito Georges Gurvitch, que procuram diminuir um pouco essa aura de "fundador único" de Comte para dividi-la com Proudhon, reconhecendo o valor (bastante) superior da socioeconomia deste último enquanto ciência para o estudo de fenômenos sociais.

Entretanto, entre os nomes mais famosos, influentes ou conhecidos do campo da Sociologia posterior no mundo, apenas Gurvitch dá essa atenção a Proudhon como possível fundador da sociologia em lugar de Comte. os demais estudiosos que concordam com isto em geral não são considerados tão importantes quanto Gurvitch — que é um dos maiores nomes mundiais da microssociologia.

A propósito, a microssociologia é a ciência sociológica que analisa a sociedade a partir de seus pequenos grupos constituintes, opção que não deixa de ter alguma influência proudhoniana. Em suma: Gurvitch e alguns autores pouco conhecidos reconhecem a superioridade da teoria proudhoniana em relação à de Comte, e procuraram reabilitá-la. Mas não tivevem sucesso, principalmente porque os preconceitos generalizados em relação ao radicalismo "anarquista" de Proudhon costumam levar as pessoas a rejeitar as teorias dele antes mesmo de estudá-las para saberem do que se trata.

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Qual o papel das noções de "ordem e progresso"
no desenvolvimento da sociedade segundo Comte? 

Além da noção de uma ordem a ser buscada pela organização da sociedade — com base no estudo científico de seu funcionamento, e de um progresso técnico e científico que promoveria essa ordem e, por sua vez, seria desencadeado por ela, levando a avanços ainda maiores — Comte desenvolveu também um estudo sobre o processo de desenvolvimento das sociedades.

Para explicar como elas se desenvolvem, Comte formulou o que ficou conhecido como a Lei dos Três Estados (ou Estágios) — que o tornaram ainda mais célebre em todo o mundo. Trata-se de três diferentes estados (ou estágios) de desenvolvimento pelos quais uma sociedade vai passando no seu caminho rumo ao progresso. O ponto que costuma ser considerado o mais importante em toda a sociologia de Comte é justamente essa sua famosa Lei dos 3 Estados, da qual ele fala em diversos textos.

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De que modo as sociedades progridem ou se desenvolvem?

Segundo Comte, as pessoas individualmente ou em grupo, as sociedades e até mesmo a humanidade como um todo, se desenvolvem sempre seguindo um mesmo caminho, que está ligado ao modo como as pessoas procuram conhecer a realidade ao seu redor para poderem agir sobre ela.

Segundo Comte existe progresso, isto é, avanço para uma situação melhor, quando as pessoas avançam para um estado superior no seu modo de tentar conhecer e entender as coisas.

O progresso acontece na medida em que as pessoas aprendem a utilizar meios de conhecimento melhores, pelos quais conseguem informações mais corretas, mais sólidas e mais seguras. Compreendendo melhor a realidade (por fazerem isso usando meios mais eficazes), as pessoas começam a agir de maneira mais eficaz também, porque cometem menos erros, já que suas ações são apoiadas em informações menos fantasiosas.

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A teoria de Comte é a de que esse avanço ou desenvolvimento, esse progresso, acontece passando sempre por três fases ou "estados", que são os mesmos para pessoas individualmente, para grupos, sociedades ou para a humanidade como um todo.

Em outras palavras, em qualquer área do conhecimento humano, uma pessoa, grupo ou sociedade, ou a humanidade como um todo, pode estar em um estado mais primitivo e menos evoluído de conhecimento a respeito do mundo ao seu redor. Ou pode estar num estágio intermediário, um pouco mais avançado, mas no qual os conhecimentos ainda não são seguros.

Ou então poder ter conseguido finalmente se desenvolver para um estado superior, no qual já pode confiar em seus conhecimentos, porque estão realmente bem fundamentados e não são mais fantasiosos ou incertos.

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A ideia geral de Comte, quando fala desses estados de desenvolvimento, pode resumida como se segue.

Primeiro, no estado mais primitivo do nosso conhecimento, partimos de falsas certezas, de fantasias nas quais acreditamos sem usarmos o raciocínio e sem termos nenhuma base realmente sólida para fundamentarmos essas crenças, ou então usamos o raciocínio apenas para justificarmos alguma coisa em que já acreditamos de saída, o que significa que confiamos mais na nossa simples crença sem nenhum fundamento do que nos raciocínios, poruq enão estamos realmente nos apoiando nele para descobrirmos se as coisas em que acreditamos são verdadeiras ou falsas.

Depois, num estado intermediário, vamos aprendendo a raciocinar e questionar nossas fantasias, e a construir teorias mais racionais sobre como deve ser a verdade em cada assunto. Já não estamos mais nos apoiando nas nossas simples crenças, pelo contrário, estamos acreditando apenas naquilo que o nosso raciocínio nos mostra que é verdadeiro.

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Mas neste estado intermediário ainda caímos em muitas incertezas e erros, porque nossas teorias ainda não percebemos que para termos um conhecimento bem fundamentado não basta apenas raciocinar.

O raciocínio é uma ferramenta de conhecimento melhor que a simples crença, mas raciocinando com o mesmo cuidado e dedicação ainda podemos chegar a teorias completamente contraditórias. Se apoiamos as nossas crenças apenas no raciocínio, logo começamos a perceber que o raciocínio pode nos levar a acreditar em coisas muito diferentes, às vezes opostas, e até mesmo contraditórias e incompatíveis umas com as outras.

Deste modo, o raciocínio acaba derrubando nossas crenças e nos deixando numa situação de incerteza, ao invés de nos ajudar a chegarmos a certezas mais sólidas e bem fundamentadas.

Finalmente, no estado mais avançado do conhecimento, aprendemos a pensar cientificamente a respeito das coisas. Em outras palavras, aprendemos o que é preciso fazer para fundamentar melhor nossas teorias: a observação e descrição cuidadosa dos fatos. É preciso observar os fatos antes de começarmos a raciocinar, para não construirmos raciocínios fantasiosos e sem nenhuma base.

Então, nesse último estado do conhecimento, que é o mais avançado, aprendemos a observar cuidadosamente os fatos, para só depois raciocinarmos sobre eles desenvolvendo nossas teorias, e com isso chegamos, agora sim, a teorias mais sólidas e menos contraditórias, nas quais podemos finalmente acreditar sem cairmos em tantas fantasias e erros.

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Em que textos Comte fala sobre sua Lei dos Três Estados?
Existem variações entre eles?

Comte fala sobre essa sua Lei dos 3 Estados de desenvolvimento em diferentes textos seus, e a cada vez os estados aparecem com nomes um pouco diferentes. Mas basicamente existem sempre, nas diferentes versões da coisa que aparecem em seus livros, três áreas de atividade humanas que, para ele, estão ligadas a esses 3 estados de desenvolvimento: a religião, a filosofia e a ciência.

No livro Discurso sobre o espírito positivo, publicado em 1844, por exemplo, Comte explica sua Lei dos 3 estados no 1º capítulo, dando ao estado mais primitivo e menos desenvolvido o nome de Estado teológico ou fictício, ao estado intermediário o nome de Estado metafísico ou abstrato, e ao estado superior o nome de Estado positivo ou real. Teologia quer dizer estudo da ideia de deus.

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Como é o primeiro estado do conhecimento
(o estado religioso) segundo Comte? 

Note-se que Comte, pelo nome que dá a esse estado de desenvolvimento do conhecimento, compara isso simplesmente com "ficção". Em outros textos, ele chama claramente esse estado primitivo do conhecimento de "Estado religioso ou fantasioso".

Em outras palavras, as crenças religiosas não têm valor como conhecimento verdadeiro: são apenas ilusões, precisamente porque são crenças, e o conhecimento baseado na simples crença não oferece absolutamente nenhuma garantia de estar certo. Uma coisa não é verdadeira apenas porque acreditamos nela, por mais forte que seja a nossa crença. Por mais que eu acredite que o sol não vai mais nascer a partir de amanhã, por exemplo, não há nada que assegure que essa minha previsão está certa.

Vejamos como pode acontecer de nos iludirmos e cairmos em meras crenças mesmo em certos casos nos quais pensamos estar utilizando a razão.

Se por exemplo acredito em um livro sagrado que diz que no ano em que quando tantos trilhões de luzes estiverem acesas o sol irá desaparecer, posso fazer uma porção de cálculos para saber quantas luzes estão se acendendo no mundo ao mesmo tempo, e chegar à conclusão de que com as novas luzes que vão instalar na minha cidade hoje, se todos ascenderem normalmente suas luzes (como fazem toda noite), vamos ter atingido o tal número de luzes acesas — portanto o sol não vai mais nascer a partir de amanhã.

Neste caso, posso ter a impressão de que eu realmente raciocinei (afinal calculei o número de luzes acesas ao mesmo tempo no mundo), e realmente observei algo do mundo (o fato de que as pessoas ascendem as luzes à noite, por exemplo).

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Até os dados estatísticos sobre o número de luzes em diferentes países deste lado do mundo em que será noite ao mesmo tempo, dados que utilizei nos meus cálculos, estão apoiados em observações dos fatos feitas por alguém (por exemplo os técnicos das empresas de energia elétrica desses vários países).

Mas qual é a base de tudo isso?

No fundo de todo esse meu esforço de raciocínio e de consideração das observações dos fatos, o que é que encontramos como base, o que é que está fundamentando tudo isso, isso tudo está apoiado, lá no fundo, em quê?

Numa simples crença — porque acreditei - sem nenhum questionamento, inclusive - naquilo que está escrito no tal livro que me disseram que é "sagrado".

Portanto, segundo Comte, tudo isso não passa de um conhecimento falso, ilusório, fictício, fantasioso, sem nenhuma base segura: não há como garantir minha previsão de que o sol realmente não vai mais nascer a partir de amanhã. É uma falsa previsão.

Nas religiões, segundo Comte, acontece precisamente isso: falsos conhecimentos, apoiados no fundo, em última instância, em puras e simples crenças sem fundamento. Qualquer previsão que se apoie nesse tipo de conhecimento será necessariamente fantasiosa.

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Como é o segundo estado do conhecimento
(o estado filosófico ou metafísico) para Comte? 

No segundo estado de desenvolvimento, que é um pouco superior ao religioso e serve como uma passagem intermediária para o estado superior ou científico, o que temos é aquele estado que Comte chamou de Metafísico ou abstrato - mas que em outros textos aparece como estado Metafísico ou filosófico.

Nesse estado de desenvolvimento do conhecimento, apesar de Comte considerá-lo ainda muito próximo do estado religioso primitivo, pelo menos começamos a definir melhor as ideias com as quais estamos trabalhando, e a raciocinar a respeito delas, de modo que já não estamos mais dependendo da pura e simples crença.

Neste segundo estado de desenvolvimento, podemos examinar nossas teorias, perceber se existem contradições ou ideias irracionais nelas, para fazermos correções, e podemos examinar também se não está ocorrendo nenhuma confusão por estarmos usando alguma palavra em duplo sentido ou mal definida.

E o mais importante: já não estamos mais apenas usando o raciocínio apenas para explicar ou justificar melhor alguma coisa em que acreditamos, alguma ideia que está fixada no nosso pensamento e que não temos a menor intenção de questionar. Pelo contrário, estamos realmente usando nossos raciocínios para tentar entender se nossas crenças são verdadeiras ou falsas, estamos tentando definir nossas ideias com coerência e precisão, e tirar delas conclusões realmente racionais, que não estejam apoiadas em alguma simples crença sem fundamento.

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E qual o problema do estado filosófico do conhecimento?
Porque é que Comte o acha ainda próximo demais do estado primitivo religioso?

O problema é que os raciocínios, nesse segundo estado de desenvolvimento, são abstratos demais, são apenas puros raciocínios, não se apoiam na observação cuidadosa dos fatos reais.

Segundo Comte, só atingimos o último estado de desenvolvimento, que é o estado positivo, quando aprendemos que não basta raciocinar livremente sobre as nossas ideias: é preciso apoiar os nossos raciocínios na observação dos fatos, no exame cuidadoso da realidade. É preciso porque, sem isso, os próprios raciocínios podem acabar levando a conclusões fantasiosas.

E mesmo que sejam raciocínios feitos com muito cuidado e senso crítico, nada garante que cheguem a conclusões seguras e realistas, ou até mesmo que cheguem a alguma conclusão — porque o excesso de senso crítico racional sem nenhum apoio nos fatos da realidade pode arruinar qualquer certeza ou conclusão possível para qualquer raciocínio, e deixar as pessoas com enormes incertezas e inseguranças.

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Como é o terceiro estado do conhecimento
(o científico ou positivo) segundo Comte?

O estado positivo ou real do desenvolvimento do conhecimento, do qual Comte fala no livro Discurso sobre o espírito positivo, aparece em outros textos dele como um "estado positivo ou científico".

Como se vê, Comte coloca a ciência e o conhecimento científico como muito superiores às teorias filosóficas e crenças religiosas, e coloca as teorias filosóficas como pouca coisa superiores às crenças religiosas, com base na sua definição da filosofia como conhecimento racional sem apoio nos fatos (que é uma definição bastante questionável).

Comte sabia que esse posicionamento com relação à filosofia talvez fosse difícil de sustentar, porque há filosofias dos mais variados tipos, e foi na própria filosofia que começaram a nascer o espírito científico e as teorias apoiadas em cuidadosa observação dos fatos — primeiro com Aristóteles, na antiguidade, depois com um filósofo chamado Francis Bacon, que criou um posicionamento chamado "empirismo", apoiado no pensamento político de Maquiavel.

Mas como realmente havia muitas filosofias na França, na época de Comte, que não se apoiavam de modo nenhum na observação dos fatos, sua crítica na prática não deixava de fazer sentido.

De qualquer modo, na maioria das vezes em que escreveu sobre esse segundo estado de desenvolvimento, que é o filosófico, Comte preferiu chamá-lo de "estado metafísico", porque "metafísica" quer dizer justamente aquilo que está para além do mundo físico e da observação dos fatos, e havia muitas filosofias na época que consideravam os estudos de tipo metafísico os mais importantes e profundos. Daí a crítica de Comte.

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