Tópicos de vida e obra de René Girard

Pesquisa & Texto da autoria de João Ribeiro de A. Borba

Primeira revisão em Jan/2021

 

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Girard: entendendo os bodes expiatórios
e a cultura do sacrifício

 

Quem é Girard?

Girard é um antropólogo francês que desenvolveu a carreira universitária nos EUA. Escreve principalmente em francês. Autor de importância e reconhecimento internacional por seus estudos sobre mitlogia e religiosidade, Girard se define como um antropólogo da violência e do simbolismo religioso. Sua antropologia dialoga com  os pensamentos de Marcel Mauss, Radcliffe-Brown, Evans-Pritchard, Levi-Strauss e outros antropólogos.

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Girard critica o estruturalismo de Levy-Strauss
e outras tendências na antropologia?


    Para Girard, as bases do método estrutural de Levy-Strauss acabam desviando a atenção dos antropólogos para estruturas lógicas formais que dão sentido às coisas para uma sociedade, quando na verdade o mais importante é o modo como a sociedade estudada lida com a violência.

    Girard também critica a tendência da etologia darwiniana em geral a minimizar a importância da capacidade humana de simbolizar, que diferencia o homem de outros animais.

Defende que essa capacidade deve ter surgido no homem gradualmente, a partir da criação de "bodes expiatórios" ou "vítimas sacrificiais" nas sociedades humanas, que teriam sido os primeiros símbolos, representando tudo aquilo contra o que as pessoas dirigem a sua agressividade.
    O sacrifício ritualístico de animais, por exemplo, tende a escolher animais mais próximos do homem ou que de alguma maneira mais o representem, animais que de algum modo pareçam "mais humanos", e a agressividade humana muitas vezes se dirige a esses animais de outras maneiras.

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Qual é o conceito mais importante de René Girard?


    O conceito mais importante da antropologia girardiana é o de "mimetismo" (imitação). Segundo ele, as sociedades só podem existir quando conseguem controlar a agressividade que as pessoas dirigem umas contra as outras, gerada por exemplo pela disputa de objetos materiais, alimento etc. A agressividade das pessoas umas contra as outras vai sendo dirigida e canalizada para uma vítima contra a qual todos se unem, e essa vítima, o "bode expiatório", é sacrificada. Agredimos a vítima ao invés de agredirmos as pessoas com quem convivemos. A vítima serve para substituir essas pessoas, deve servir como um símbolo que as represente.
    Para esse mecanismo funcione e sacie os impulsos agressivos de todos, a vítima precisa ter traços que lembrem essas pessoas com quem convivemos e que desejaríamos agredir. Ela precisa servir como uma imitação "mimética" dessas pessoas.

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O pensamento de Girard dialoga com o de outros estudiosos?


    O pensamento de Girard dialoga com estudiosos de muitas diferentes áreas, e se destaca sua crítica a Freud, o fundador da psicanálise. Relendo o livro de Freud Totem e tabu, Girard reelabora a tese freudiana dos Complexos de Édipo e de Electra, pelas quais a criança tem desejos agressivos, de sexo e destruição, em relação aos pais. Para Girard, esse desejo existe, mas nasce de sempre de uma "identificação mimética", pela qual a criança imita o pai ou a mãe, desejando o que pai ou mãe desejam. A partir daí, a criança passa a disputar o seu objeto de desejo (pai ou mãe) com quem ela imita.

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Quais são as leituras mais recomendadas
para quem quer entender o pensamento de Girard?


     Para entender Girard, recomenda-se a leitura de seus livros A violência e o sagrado (considerado sua obra mais importante) e Um longo argumento do princípio ao fim: diálogos com João cezar de Castro Rocha e Pier Paolo Antonelo, em que Girard é entrevistado pelos outros dois. Ambos os livros estão traduzidos para o português.

Outra importante obra sua, mais recente (e também traduzida para o português) é Coisas ocultas desde a fundação do mundo, em que usa sua teoria para examinar o pensamento cristão. Segundo Girard, o cristianismo é a única religião que chega a detectar claramente e denunciar o mecanismo do "bode expiatório".

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