Fontes

Proposta do livro

A proposta do livro que (ainda não) está aqui apresentado é a de desenvolver em texto uma construção coerente de meu pensamento filosófico a partir dos apontamentos críticos de leitura que faço de minhas fontes, aqueles pensadores teóricos em que me baseio. Basicamente, um tecido de passagens (às vezes mais extensas, às vezes menos) selecionadas, relidas e reinterpretadas por mim. Daí o título que pretendo dar a ele: Fontes.

O livro deve também oferecer algum apoio a quem queira conhecer melhor os autores examinados, e será estruturado de modo a permitir isso, embora este não seja o seu principal objetivo. A ideia é que o leitor possa acompanhar posicionando-se, concordando ou discordando de minhas releituras e reinterpretações com o devido conhecimento dos fundamentos bibliográficos assumidos por mim, e do tratamento dado por mim a essa bibliografia.

 

Organização geral do livro

O livro organizará meus pensamentos para o leitor focalizando em primeiro plano as áreas de filosofia política e ética, mas em meu pensamento filosófico a ética está muito intimamente conectada à estética, que então estará também em foco –– na verdade considero a ética como uma parte da estética, como uma estética das ações.

O livro estará organizado primeiramente em 2 partes: uma sobre os principais eixos de atenção no curso da exposição, e outra sobre, digamos assim, o que pode ser considerado como uma forragem teórica extra, de complemento.

 

Como será a primeira parte do livro

A primeira parte, sobre os autores tomados como eixo principal para a exposição, passará pelo exame de textos de Vilém Flusser, Pierre-Joseph Proudhon, Cornélius Castoriadis, Guy Debord, Sexto Empírico, Maquiavel e La Boétie. Sexto Empírico, autor mais voltado para questões de teoria do conhecimento, será examinado em conjunto com vários outros autores de sua mesma linha de pensamento (ceticismo pirrônico), e com um trabalho especial de minha parte no sentido de levantar uma perspectiva ético-política coerente com esse posicionamento (cético-pirrônico).

Maquiavel e La Boétie serão trabalhados em conjunto, como se fossem um único autor –– coisa que faz parte de meus procedimentos de apropriação dos autores em muitos casos –– o que será acompanhado de um esforço de minha parte no sentido de costurar coerências entre ambos para formar com eles esse autor único imaginário. 

Por outro lado, não creio que se possa compreender devidamente La Boétie sem seu paralelismo com o pensamento filosófico de seu melhor amigo, Michel de Montaigne, e julgo que ambos por sua vez estão fortemente influenciados, em vários aspectos de seus pensamentos, por seus contatos indiretos (mas marcantes) com a cultura indígena brasileira recém-descoberta na época pelos europeus... notadamente pela cultura tupi-guarani. De modo que trarei ao exame dos mesmos também algo dos estudos a esse respeito realizados por um dos maiores especialistas no assunto (senão o maior): o antropólogo Pierre Clastres.

Flusser, Proudhon, Castoriadis, Debord, Sexto Empírico, Maquiavel e La Boétie serão trabalhados a partir de uma profusa seleção de textos dos mesmos, que procurarei esclarecer antes de comentar e reinterpretar à minha maneira, construindo com coerência meu próprio pensamento a partir deles.

Os trechos selecionados para releitura serão extraídos de diversos textos de cada altores, mas alguns desses textos serão focalizados com maior atenção.

De Flusser, serão selecionados em especial trechos de alguns ensaios de Natural:mente, da série de conferências Artifício, Artefato, Artimanha (proferidas numa Bienal de Artes Plásticas de São paulo, mas não publicadas ainda em texto) e dos livros Filosofia da caixa preta e Comunicologia. Entrelaçados nestes meus diálogos com Flusser devo trazer também algum diálogo com outra de minhas fontes, que é Wittgenstein (focalizando as Investigações filosóficas), também com Heidegger (que só me serve de fonte indiretamente, através de Flusser), com Albert Camus (este sim, entre minha fontes) e, de leve, com Marx (que não está entre elas, mas tem alguma influência sobre Flusser).

Wittgenstein é fundamentalmente um filósofo da linguagem, mas seus jogos de linguagem têm um considerável impacto em minha compreensão das relações entre as coisas no mundo, e sua alta problematização da representação linguística conduz a reflexões interessantes acerca da representação política. Além de Wittgenstein uma segunda fonte à qual devo recorrer e que é do mesmo modo ligada à filosofia da linguagem, é Mikhail Bakhtin. Os dois, aliás, me servem de fonte tanto no campo da filosofia da linguagem quanto no que diz respeito ao tema do lúdico.

De Proudhon, principalmente trechos de Da criação da ordem na Humanidade ou Princípios de organização política e de Filosofia do progresso. De Castoriadis, trechos principalmente de Instituição imaginária da sociedade e de escritos sobre a questão da técnica e da tecnologia em As encruzilhadas do labirinto. De Debord, principalmente trechos do livro Sociedade do espetáculos.

De Sexto Empírico, trechos principalmente do primeiro livro das Hipotiposis pirronianas. De Maquiavel, principalmente trechos de O Príncipe e dos "Discorsi" –– apelido dado pelos estudiosos ao livro Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio). De La Boétie, trechos selecionados de seu Discurso da servidão voluntária. As referências a Montaigne serão extraídas de seus Ensaios, e as referências a Pierre Clastres de seu famoso livro Sociedade contra o Estado.

 

Como será a segunda parte do livro

Na segunda parte do livro aqui apresentado, haverá uma subdivisão. Primeiro uma série de autores complementares (a "forragem teórica extra" já mencionada) que serão trabalhados mais rapidamente, a partir de uma seleção bem menor de textos, mas que nem por isso são menos importantes, e que aqui só caem para o segundo plano por causa do modo como decidi estruturar este livro e da temática escolhida como central (política e ética, esta última englobada na estética). E em segundo lugar, uma série de temas gerais, passados ainda mais rapidamente.

Nessa primeira série de autores complementares, estarão contemplados: Nietzsche e Stirner (tratados como se fossem um só autor, à maneira do que faço com Maquiavel e la Boétie), Hobbes e Rousseau (combinados também num só de maneira similar), Pascal, Sócrates e o sofista Protágoras (mais uma vez combinando os dois pensadores num só, o que exigirá um esforço menor do que normalmente se imaginaria) e Aristóteles (atentando especificamente para um quase-relativismo ético que se pode encontrar nele, e para uma possível teoria dos processos embutida em sua teoria das "quatro causas"). Finalmente, serão trabalhados ainda aqui diversos autores que representam diferentes versões ou interpretações da dialética, e por último Kurt Lewin e Jacob-Levy Moreno (outra vez conjugados imaginariamente num só autor).

A dialética aparece aqui como um tema geral, mas julguei necessário colocar esse tema aqui, e não junto aos temas gerais trabalhados em seguida, porque desenvolvo uma interpretação particular da dialética –– à qual chamo de "dialética multivariante" –– que combino com as influências recebidas por mim das leituras de moreno e principalmente de Lewin, para formular o que chamo de "topodialética".

Por fim, na série de temas trabalhados por último, estarão incluídos:

  1. Teoria matemática dos Jogos, Cibernética e Teoria geral dos Sistemas;
  2. Mitologia (tema que será tratado no sentido de esclarecer e aprofundar a conjunção cultural que faço entre ética e estética);
  3. O lúdico (passando rapidamente pelos autores Johan Huizinga, Roger Caillois, Jean Duvignaud, Jean Piaget, Ludwig Wittgenstein e Mikhail Bakhtin);
  4. Anarquismo e pensadores anarquizantes (tema que me servirá para demarcar diversas proximidades pontuais que mantenho com um posicionamento de juventude, embora já não me inscreva por completo nele);
  5. Cyberfeminismo e Feminismo "da bruxa" (tema que me servirá para entrar na discussão do patriarcalismo e de expectativas ético-políticas em relação ao matriarcalismo).

 

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