Seleção e organização das citações por João R. A. Borba
Não são (...) mais sábios os mestres por terem aptidão prática, mas pelo fato de possuirem a teoria e conhecerem as causas. Em geral, a possibilidade de ensinar é indício de saber...
ARISTÓTELES. Metafísica. Livro I, Cap. I.
São Paulo: Abril Cultural, 1973.
Col. Pensadores vol. IV, p. 212
De acordo com a própria natureza, a filosofia é a atividade mais digna de ser escolhida pelos homens.
ARISTÓTELES. Da geração e da corrupção: Seguido de Convite à filosofia.
São Paulo: Landy, 2001, p. 155
(...) devemos examinar de que causas e de que princípios a filosofia é a ciência. Se considerarmos as opiniões que existem acerca do filósofo, talvez o problema se nos manifeste com maior clareza. Nós admitimos, antes de mais, que o filósofo conhece, na medida do possível, todas as coisas, embora não possua a ciência de cada uma delas por si. Em seguida, quem consiga conhecer as coisas difíceis e que o homem não consegue facilmente atingir, esse também consideramos filósofo (porque o conhecimento sensível é comum a todos, e por isso fácil e não-científico). Além disso, quem conhece as causas com mais exatidão, e é mais capaz de as ensinar, é considerado em qualquer espécie de ciência como mais filósofo. e, das ciências, a que escolhemos por ela própria, e tendo em vista o saber, é mais filosofia do que a aque escolhemos em virtude dos resultados; e uma ciência mais elevada é mais filosofia do que uma subordinada, pois não convém que o filósofo receba leis, mas que as dê, e que não obedeça ele a outro, mas a ele quem é menos sábio. No entanto, é sobremaneira difícil ao homem chegar a estes conhecimentos universais, porque estão muito para além das sensações.
ARISTÓTELES. Metafísica. Livro I, Cap. I.
São Paulo: Abril Cultural, 1973.
Col. Pensadores vol. IV, p. 213-214
A mais elevada das ciências, e superior a qualquer subordinada, é, portanto, aquela que conhece aquilo em vista do qual cada coisa se deve fazer. (...) Ela deve ser, com efeito, a ciência teórica dos primeiros princípios e das causas. Que não é uma ciência prática resulta da própria história dos que primeiro filosofaram. foi, com efeito, pela admiração que os homens, assim hoje como no começo, foram levados a filosofar, sendo primeiramente abalados pelas dificuldades mais óbvias, e progredindo em seguida pouco a pouco até resolverem problemas maiores (...). Ora, quem duvida e se admira julga ignorar: por isso, também quem ama os mitos é, de certa maneira, filósofo, porque o mito resulta do maravilhoso. Pelo que, se foi para fugir à ignorância que filosofaram, claro está que procuraram a ciência pelo desejo de conhecer, e não em vista de alguma utilidade.
ARISTÓTELES. Metafísica. Livro I, Cap. I.
São Paulo: Abril Cultural, 1973.
Col. Pensadores vol. IV, p. 214
Ora, causa diz-se em quatro sentidos: no primeiro, entendemos por causa a substância e qual o ser, designado pela definição de sua essência; a segunda causa é a matéria e o sujeito; a terceira é a de onde vem o início do movimento; a quarta causa, que se opõe à precedente, é o "fim para que" e o bem (porque este é, com efeito, o fim de toda a geração e movimento).
ARISTÓTELES. Metafísica. Livro I, Cap. I.
São Paulo: Abril Cultural, 1973
Col. Pensadores vol. IV, p. 216
Chamo de forma à quididade de cada coisa e à sua essência primeira (...)
ARISTÓTELES. Metafísica. Livro Z, extraído de nota de rodapé in
PORCHAT PEREIRA, Oswaldo. Ciência e dialética em Aristóteles.
São Paulo: Unesp, p. 112.
Acabamos de passar em revista, breve e sumariamente, os filósofos que trataram dos princípios e da verdade e como o fizeram, podendo assim concluir-se, relativamente aos que trataram do princípio e da causa, que nenhum discorreu fora das causas que nós determinamos (...) e todos, embora confusamente, parecem tê-las como que pressentido. Mas qual o ser e a substância ninguém atingiu, embora de mais perto deles se aproximem os que admitem as ideias.
ARISTÓTELES. Metafísica. Livro I, Cap. I.
São Paulo: Abril Cultural, 1973.
Col. Pensadores vol. IV, p. 225 cap. 7
A matéria é aquilo de que os pontos e linhas são os limites, e de modo algum pode existir sem afecções nem formas.
ARISTÓTELES. Da geração e da corrupção: Seguido de Convite à filosofia.
São Paulo: Landy, 2001, p. 53
Visto que uma coisa é o substrato e outra distinta é a afeição que dele advém e que, além disso, a mudança inclui cada um deles, existe alteração quando o substrato permanece e é perceptível, mas mjuda em suas afecções (...) (por exemplo o corpo, permanecendo o mesmo, fica são e outras vezes enfermo; e o bronze, ainda sendo o mesmo, é esférico e às vezes de forma angular).
Contudo, quando o que muda é a coisa em seu conjunto sem que permaneça nada perceptível como substrato idêntico (...), tal processo já é uma geração — ao mesmo tempo que é corrupção de outra coisa, em especial se a mudança se produz de algo imperceptível para algo perceptível (ao tato ou a todos os sentidos).
ARISTÓTELES. Da geração e da corrupção: Seguido de Convite à filosofia.
São Paulo: Landy, 2001, p. 49
Parece (...) impossível que existam separadamente a substância e aquilo de que ela é substância: neste caso, as ideias, que são as substâncias das coisas, como existiriam separadas delas?
ARISTÓTELES. Metafísica. Livro I, Cap. I.
São Paulo: Abril Cultural, 1973.
Col. Pensadores vol. IV, p. 232
(...) causa no sentido de matéria dos entes sujeitos à geração é "a possibilidade de ser e não ser" (...) há alguns entes, enfim, que podem existir e não existir — esse é o caso do gerável e do corruptível, pois num momento é e em outro momento não é.
Por conseguinte, a geração e a corrupção devem, necessariamente, dar-se no âmbito do que pode ser e não ser. Portanto é essa a causa, só no sentido de matéria, dos entes sujeitos a geração, ao passo que causa é "aquilo em vista do qual" há a figura e a forma: é essa a definição da essência de cada coisa.
ARISTÓTELES. Da geração e da corrupção: Seguido de Convite à filosofia.
São Paulo: Landy, 2001, p. 131-132
Posto que nas coisas sujeitas a movimento contínuo no curso de uma geração, alteração ou mudança em geral, observamos uma série consecutiva, com uma coisa produzindo-se depois da outra, de modo que não há intervalos, devemos, então, indagar se há algo que exista por necessidade, ou se não há nada semelhante, podendo todas as coisas não se gerar.
É evidente que isso acontece com algumas coisas e justamente por isso se ressalta a diferença entre dizer que algo "será" e dizer que algo "está por" ser, (...) assim sendo, uma pessoa poderia não andar, embora agora "esteja por" andar.
Em linhas gerais, dado que alguns entes têm a possibilidade de não ser, é óbvio que isso ocorrerá, de qualquer modo, com as coisas sujeitas à geração e que essa não necessariamente haverá de se produzir. Agora, será que todas as coisas pertencem a essa classe?
ARISTÓTELES. Da geração e da corrupção: Seguido de Convite à filosofia.
São Paulo: Landy, 2001, p. 141
Mas se há de existir o movimento, é forçoso que haja algum motor (...) e se o movimento é eterno, é preciso que haja um motor eterno; se é contínuo, o motor deve ser uno, idêntico, imóvel, não-gerado e inalterável.
ARISTÓTELES. Da geração e da corrupção: Seguido de Convite à filosofia.
São Paulo: Landy, 2001, p. 138
Se (...) a arte imita a natureza, é desta que decorre, também para as artes, o fato de que toda gênese se produz com vistas a um objetivo. Pois admitiremos que tudo o que é engendrado corretamente é engendrado com vistas a um objetivo. Acontece que o que é engendrado de uma bela maneira é engendrado corretamente. E tudo o que é ou foi engendrado em conformidade com a natureza é ou foi engendrado de uma bela maneira, se é verdade que o que vai de encontro à natureza é defeituoso e contrário ao que existe em conformidade com ela. Por conseguinte, a gênese conforme a natureza se produz com vistas a um objetivo.
ARISTÓTELES. Da geração e da corrupção: Seguido de Convite à filosofia.
São Paulo: Landy, 2001, p. 153
Assim sendo, de todas as coisas, a realização é sempre melhor (do que a própria coisa), pois todas as coisas engendradas são engendradas com vistas à sua realização e o objetivo visado é melhor, e até mesmo, de todas as coias, é a melhor.
ARISTÓTELES. Da geração e da corrupção: Seguido de Convite à filosofia.
São Paulo: Landy, 2001, p. 154
É preciso afirmar que o indivíduo acordado vive mais do que aquele que está dormindo, e que aquele cuja alma opera vive mais do que aquele que só a possui.
ARISTÓTELES. Da geração e da corrupção: Seguido de Convite à filosofia.
São Paulo: Landy, 2001, p. 172
Usamos uma coisa, qualquer uma, quando, sendo capazes de uma única coisa, fazemos a mesma passar a ato, e quando, sendo capazes de várias coisas, fazemos passar a ato a melhor delas. Por exemplo, usamos flautas só ou principalmente quando as tocamos (...). É por isso que devemos afirmar que aquele que usa corretamente uma coisa a usa mais. Na verdade o objetivo e o modo de usar naturais de uma coisa cabem àquele que a usa bela e exatamente.
ARISTÓTELES. Da geração e da corrupção: Seguido de Convite à filosofia.
São Paulo: Landy, 2001, p. 172-173
(...) a operação realizada e sem entraves tem em si mesma o seu gozo, de modo que a operação contemplativa é a mais prazerosa de todas.
ARISTÓTELES. Da geração e da corrupção: Seguido de Convite à filosofia.
São Paulo: Landy, 2001, p. 173
(...) nascida de um princípio improvisado (tanto... como a comédia), a tragédia pouco a pouco foi evoluindo, à medida que se desenvolvia tudo quanto nela se manifestava; até que, passadas muitas transformações, a tragédia se deteve, logo que atingiu a sua forma natural. (...) Se as transformações da tragédia e seus autores nos são conhecidas, as da comédia, pelo contrário, estão ocultas, pois que delas se não cuidou desde o início (...). É pois a tragédia imitação de uma ação de caráter elevado (...) que, suscitando o "terror e a piedade, tem por efeito a purificação dessas emoções".
ARISTÓTELES. Poética. Livro I, Cap. I.
São Paulo: Abril Cultural, 1973.
Col. Pensadores vol. IV, p. 447
(...) como os imitadores imitam homens que praticam alguma ação, e estes, necessariamente, são indivíduos de elevada ou de baixa índole (porque a variedade dos caracteres só se encontra nestas diferenças) e, quanto ao caráter, todos os homens se distinguem pelo vício ou pela virtude), necessariamente também sucederá que os
poetas imitam homens melhores, piores ou iguais a nós, como o fazem os pintores (...). Pois a mesma diferença separa a tragédia da comédia; procura, esta, imitar os homens piores,e aquela, melhores do que eles ordinariamente são.
ARISTÓTELES. Poética. Livro I, Cap. I.
São Paulo: Abril Cultural, 1973.
Col. Pensadores vol. IV, p. 444
(...) tal como é necessário que que nas demais artes mimíticas una seja a imitação, quando o seja de um objeto uno, assim também o mito, poruqe é uma imitação de ações, deve imitar as que sejam unas e completas, e todos os acontecimentos se devem suceder em conexão tal que, uma vez suprimido ou deslocado um deles, também se confunda ou mude a ordem do todo. pois não faz parte de um todo o que, quer seja quer não seja, não altera esse todo.
ARISTÓTELES. Poética. Livro I, Cap. I.
São Paulo: Abril Cultural, 1973
Col. Pensadores vol. IV, p. 450
É necessário que os mitos bem compostos não comecem nem terminem ao acaso (...).
Além disso, o belo — ser vivente ou o que quer que se componha de partes — não só deve ter essas partes ordenadas, mas também uma grandeza que não seja qualquer. Porque o belo consiste na grandeza e na ordem, e portanto um organismo vivente, pequeníssimo, não poderia ser belo (pois a visão é confusa quando se olha por tempo quase imperceptível): e também não seria belo grandíssimo (porque faltaria a visão do conjunto, escapando à vista dos espectadores a unidade e a totalidade...).
ARISTÓTELES. Poética. Livro I, Cap. I.
São Paulo: Abril Cultural, 1973
Col. Pensadores vol. IV, p. 450
(...) o raciocínio é um argumento em que, estabelecidas certas coisas, outras coisas diferentes se deduzem necessariamente das primeiras.
ARISTÓTELES. Tópicos. Livro I, Cap. I.
São Paulo: Abril Cultural, 1973.
Col. Pensadores vol. IV, p. 11
Que alguns raciocínios são genuinos, enquanto outros apenas aparentam sê-lo, porém não o são, é coisa evidente. Isso acontece não só com os argumentos, mas também em outros campos, mercê de uma certa semelhança entre o genuino e o falso. (...) do mesmo modo, tanto o raciocínio quanto a refutação às vezes são genuinos e outras vezes falsos, conquanto a inexperiência possa fazer com que pareçam autênticos (...). Com efeito, os raciocínios repousam sobre juízos tais que implicam necessariamente a asserção de outra coisa que não as afirmadas inicialmente, e em consequência destas. E a refutação, por seu lado, é um raciocínio que conduz a contrária da conclusão prévia. Ora, algumas delas não alcançam realmente esse objetivo, embora pareçam fazê-lo por diversas razões, sendo a mais prolífica e usual destas o argumento que gira apenas em torno de nomes. É impossível introduzi numa discussão as próprias coisas discutidas: em lugar delas usamos os seus nomes como símbolos e, por conseguinte, supomos que as consequências que decorrem dos nomes decorrem também das das próprias coisas (...). Mas os dois casos (nomes e coisas) não são semelhantes (...).
ARISTÓTELES. Dos argumentos sofísticos. Cap. 1.
São Paulo: Abril Cultural, 1973.
Cole. Pensadores vol. IV, p. 161
Averiguemos, então, em quantos sentidos se diz que um homem é "injusto". Ora, o termo "injusto" se aplica tanto ao homem que transgride a lei como ao homem que toma mais do que lhe é devido, o parcial. Disso fica claro que o homem obediente à lei e o homem imparcial serão justos. Por conseguinte, "justo" significa o que é lícito e o que é equânime ou imparcial, e "injusto" significa o que é ilícito e o que é não equânime ou parcial.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco.
In MORRIS, Clarence (Org.). Os grandes filósofos do direito.
São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 6
Por outro lado, a justiça em particular, e aquilo que é justo no sentido correspondente a ela, divide-se em dois tipos. Um tipo é exercido pela distribuição de honra, riqueza e outros ativos divisíveis da comunidade, que podem ser repartidos entre seus membros em partes iguais ou desiguais. O outro tipo é aquele que fornece um princípio corretivo nas transações privadas. Essa Justiça Corretiva, por outtro lado, tem duas subdivisões, correspondendo às duas classes de transações privadas, aquelas que são voluntárias e aquelas que são involuntárias. Exemplos de transações voluntárias são vender, comprar, emprestar a juros, penhorar, emprestar sem juros, depositar, alugar; sendo essas transações designadas voluntárias porque são iniciadas voluntariamente. Das transações involuntárias, algumas são furtivas, como roubo, adultério, envenenamento, lenocínio, sedução de escravos, homicídio, falso testemunho; outras são violentas, como assalto, prisão, assassinato, roubo com violência, mutilação, linguagem abusiva, tratamento insultante.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco.
In MORRIS, Clarence (Org.). Os grandes filósofos do direito.
São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 8
(...) o justo é o proporcional e o injusto é o que viola a proporção. Assim, o injusto pode ser demais ou de menos; (...) quando a injustiça é feita, o autor tem demais e quem sofre a ação tem de menos do bem em questão; no caso de um mal, é o inverso.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco.
In MORRIS, Clarence (Org.). Os grandes filósofos do direito.
São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 9
Sabemos que toda cidade é uma espécie de associação, e que toda associação se forma tendo por alvo algum bem.
ARISTÓTELES. A política.
São Paulo: Atena, 1960, p. 11
É evidente, pois, que a cidade faz parte das coisas da natureza, que o homem é naturalmente um animal político, destinado a viver em sociedade, e que aquele que, por instinto, e não porque qualquer circunstância o inibe, deixa dre fazer parte de uma cidade, é um ser vil ou superior ao homem. Tal indivíduo merece, como disse Homero, a sensura cruel de ser um sem família, sem leis, sem lar. Porque ele é ávido de combates, e, como as aves de rapina, incapaz de se submeter a qualquer obediência.
ARISTÓTELES. A política.
São Paulo: Atena, 1960, P. 14
Claramente se compreende a razão de ser o homem um animal sociável em grau mais elevado que as abelhas e todos os outros animais que vivem reunidos . A natureza, dizemos, nada faz em vão. O homem só, entre todos os animais, tem o dom da palavra; a vo é o sinal da dor e do prazer, e é por isso que ela foi também concedida aos outros animais. Estes chegam a experimentar sensações de dor e de prazer, e a se fazer compreender uns aos outros, porém, tem por fim fazer compreender o que é útil ou prejudicial, e, em consequência, o que é justo ou injusto. O que distingue o homem de um modo específico é que ele sabe discrernir o bem do mal, o justo do injusto (...).
ARISTÓTELES. A política.
São Paulo: Atena, 1960, p. 15
Na ordem da natureza, o Estado se coloca antes da família e antes de cada indivíduo, pois que o todo deve, forçosamente, ser colocado antes da parte (...) uma mão separada do corpo não será mais mão além do nome. Todas as coisas se definem pelas suas funções; e desde o momento em que elas percam os seus característicos, já não se poderá dizer que sejam as mesmas; apenas ficam compreendidas sob a mesma denominação. Evidentemente o Estado está na ordem da natureza e antes do indivíduo; pois se cada indivíduo isoladonão se basta a si mesmo, assim também se dará com as partes em relação ao todo. Ora, aquele que não pode viver em sociedade, ou que de nada precisa por bastar-se a si próprio, ou é um bruto ou um deus. A natureza compele assim todos os homens a se associarem.
ARISTÓTELES. A política.
São Paulo: Atena, 1960, p. 15
O governo é o exercício do poder supremo no Estado. Este governo não poderia estar senão entre as mãos quer de um só, quer do menor número, quer do maior número de pessoas. Quando o monarca, o maenor número ou o maior número não procuram, quer uns quer outros, senão a felicidade geral, o governo é necessariamente justo. Mas se têm em vista o interesse particular do príncipe, ou dos outros chefes, trata-se de um desvio. O interesse deve ser comum a todos ou, se não o é, já não são cidadãos.
Chamamos monarquia ao Estado em que o mando, dirigido para este interesse comum, pertence a um só; aristocracia, aquele em que o mando é confiado a mais do que um, denominação tomada ou do fato de que as poucas pessoas a quem está confiado são escolhidas entre as mais honestas ou do fato de que elas só têm em vista o maior bem do Estado e dos seus membros; república, aquele em que a multidão governa para a utilidade pública; este nome é ainda comum a todos os Estados.
(...)
Essas três formas podem degenerar: a realeza, em tirania, a aristocracia, em oligarquia; a república, em democracia. A tirania não é, na realidade, mais do que a monarquia orientada para a utilidade do monarca; a oligarquia, para a utilidade dos ricos; a democracia, para a utilidade dos pobres: nenhuma das três se ocupa do interesse público. Pode ainda dizer-se, um pouco doutra forma, que a tirania é o governo despótico exercido por um homem sobre um Estado; que a oligarquia consiste no governo dos ricos; e que a democracia se entende como o governo dos pobres e das pessoas pouco afortunadas.
ARISTÓTELES. Tratado da política.
Mem Martins (Portugal): Europa-América, 1977, p. 79-80