Darcy Ribeiro é um estudioso brasileiro de antropologia (ou seja, um estudioso das diferentes culturas humanas, principalmente em povos primitivos, indígenas), e teve participação atuante na política brasileira.
O livro O processo civilizatório é sobre a história da humanidade em geral, e chamou muita atenção em toda a Europa tornando o autor mundialmente famoso. O que mais chamou a atenção no livro, o que foi considerado mais polêmico, foi o pequeno capítulo dedicado ao período da Idade Média.
Apesar de ser um antropólogo, e de os antropólogos em geral se interessarem pela cultura e pelo modo de vida das diferentes sociedades, dialogando bem com os historiadores da vida cotidiana, neste livro Darcy Ribeiro aponta completamente em outra direção. Indo para o extremo oposto dos historiadores da vida cotidiana, trata de ignorar de propósito tudo o que diga respeito a isso, para se concentrar só nos mecanismos gerais que, segundo ele, organizam e transformam as civilizações de uma época para outra.
Ele coloca em primeiro lugar e acima de tudo a tecnologia e os desenvolvimentos tecnológicos de cada povo, época após época. E explica todas as outras transformações que vão acontecendo em uma sociedade a partir das tecnologias quer vão sendo abandonadas e das novas tecnologias que vão sendo descobertas e utilizadas por ela.
No curto e polêmico capítulo sobre a Idade Média, acaba retomando, por esse novo caminho, aquela velha visão tradicional da Idade Média inteira como sendo, no fundo, uma espécie de “Era das Trevas”. Mostra que ao longo da Idade Média todas as melhores tecnologias desenvolvidas na antiguidade — especialmente pela civilização romana — foram sendo abandonadas e substituídas por tecnologias inferiores e mais atrasadas, ou por tecnologia nenhuma, de modo que a Idade Média acabou sendo, para dizer o mínimo, um período de estagnação, de nenhum progresso, ou talvez até de regressão.
De modo que a a assim chamada "Era Cristã" ou medieval, no livro, acaba parecendo tão “bárbara” e incivilizada quanto aquelas sociedades do norte da Europa que no início tinham vindo invadir o império romano e desmantelá-lo. As mesmas que foram chamadas pelos romanos e cristãos de “povos bárbaros”.
Há talvez exagero da parte de Darcy Ribeiro, e sem dúvida esse ponto de vista levantado por ele na verdade não nos ajuda a compreender cuidadosa e detalhadamente a Idade Média, porque faz parecer que essa época não apresenta nada de realmente importante e não chega a merecer tanto estudo.
De qualquer modo, é uma obra que despertou interesse por esse foco na questão tecnológica, e que causou algum abalo provocador e interessante nos debates mundiais sobre o estudo da História medieval –– de modo que merece ser lida.