Filosofia

Filosofia

Definição

Tentando definir filosofia

por João Borba (2012)


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O que é Filosofia
O que quer dizer a palavra "filosofia" | A Filosofia é diferente da Ciência? | Por que é tão difícil definir o que é Filosofia? | Tentar definir "filosofia" pode ser um problema para os professores dessa área? | Como este site se posiciona em relação aos intermináveis debates filosóficos? | Como a definição de filosofia com que este site trabalha se posiciona em relação às outras definições que existem?Qual é a definição de filosofia com a qual este site trabalha? | A definição de filosofia proposta no site vai mais longe do que os 5 pontos apresentados nesta página?


 

O que é Filosofia

 

O que quer dizer a palavra "filosofia"?

A palavra "Filosofia" vem de duas palavras gregas antigas: filo e sofia (que se costuma escrever com "ph" no lugar do "f": philo e sophia). Philo quer dizer apego amoroso, amor, amizade, ligação íntima. É a mesma origem de onde vêm as palavras "filho" e "filiação". Sophia quer dizer sabedoria, conhecimento. Portanto, ao pé da letra, a palavra significa aproximadamente apego íntimo ou amoroso pela sabedoria. Na grécia antiga os grandes sábios eram chamados de "sophós" (aqueles que têm sophia, sabedoria).

Mas aprender o que significa a palavra não ajuda muito a entender o que é a filosofia, o que realmente se faz nessa área de atuação. É que existem dificuldades especiais quando se trata de defini-la. Ela é mais difícil de definir que as outras áreas — e no entanto não podemos deixar isso de lado, porque filosofia é justamente a área de atuação deste site. Se ele traz ideias e informações úteis também para outras áreas, é porque a própria filosofia contribui à sua maneira com todas as outras áreas.

Pela dificuldade especial que existe em defini-la, o que teremos aqui não será uma definição sólida, final e decisiva de Filosofia. Uma definição assim a rigor seria impossível para esta área de atuação. O que se segue então são esclarecimentos e comentários a respeito dessa dificuldade especial de definição, e a tentativa de formular uma hipótese talvez útil nessa direção. Nada mais que isso.

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A Filosofia é diferente da Ciência?

A Filosofia é uma forma de estudo, assim como a ciência — e as duas, ciência e filosofia, já estiveram muito ligadas no passado. Mas a certa altura se separaram. Mais ou menos na segunda metade do século XIX já era possível perceber uma separação muito nítida e inclusive bastante grande entre as práticas de cientistas e as dos filósofos. Mas talvez por isso mesmo, já que no século XXI as pessoas costumam conhecer muito melhor as ciências do que a Filosofia, talvez a comparação entre as duas ajude a compreender melhor como são, afinal, esses estudos que chamamos de "filosóficos".

Já no século XX ficou bastante fácil definir o que é ciência em geral, e ainda mais fácil definir uma ciência específica qualquer. Porque uma ciência é sempre o estudo de alguma coisa seguindo certos critérios e procedimentos considerados científicos. E são critérios e procedimentos sobre os quais os cientistas costumam chegar a acordo com alguma facilidade, apesar de sempre manterem alguma margem de debate (pequena nas ciências exatas e naturais, maior nas ciências humanas).

Se pudermos definir que coisa é essa que tais cientistas estudam, qual é o objeto de estudo da sua especialidade científica, e quais são os critérios e procedimentos aceitos e adotados por essa comunidade científica, teremos definido essa ciência.

A principal razão pela qual há certa facilidade entre os cientistas de uma área para chegarem a acordos quanto aos seus critérios e procedimentos e quanto ao seu objeto de estudo, pode ser melhor explicada com um exemplo. Discutir a definição de "biologia", por exemplo, não é parte dos próprios estudos biológicos, já que a biologia não é o estudo de "definições", mas o estudo do bios (que em grego quer dizer vida)mais precisamente, é o estudo do corpo dos seres orgânicos, isto é, dos organismos vivos. É claro que um biólogo pode criar definições que sejam úteis nesse seu estudo dos organismos vivos, mas essas definições são parte dos seus intrumentos de trabalho, não são são o seu objetivo. O mesmo exemplo vale para todas as ciências.

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Quando um biólogo discute a própria definição de biologia — e às vezes um cientista precisa fazer isso, porque de algum modo foi levado a isso pelos problemas que apareceram em suas pesquisas — ele está indo além das suas atividades de pesquisa especificamente biológicas, está avançando para um terreno que já é o da Filosofia.

Mas a Filosofia não pode de maneira nenhuma ser definida como uma "ciência das definições".

Sim, ela tem entre as suas atividades a de construir definições. Não somente aquelas definições necessárias para o estudo especializado de algo (coisa que os cientistas também fazem, dentro de suas especialidades), mas definições para tudo. Qualquer coisa pode ser objeto da atividade definidora (e até redefinidora) dos filósofos, inclusive aquelas que já foram definidas de outro modo por cientistas dentro de suas especialidades — um filósofo pode redefini-las para reestudá-las de uma maneira diferente, de uma maneira filosófica (há muitos casos em que os filósofos fazem isso). E o filósofo pode inclusive pode chegar a colocar como objetivo a construção de uma definição que atenda a tais e tais exigências.

Mas não, a Filosofia não pode ser considerada uma "ciência das definições", porque ela não faz apenas isso. O filósofo faz muito mais do que construir definições para as coisas, e nos seus estudos, desempenha inclusive outras atividades completamente diferentes da atividade de "definir". Além disso, a atividade de "definir" algo pode estar entre os seus objetivos como filósofo ou não.

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Por que é tão difícil definir o que é Filosofia?

 Quando se tenta definir Filosofia, logo se percebe que é extremamente difícil fazer isso, principalmente por duas razões:

  1. É fácil constatar que em Filosofia há sempre muito mais pontos de debate e discussão do que pontos de acordo. Aliás, são bem raras as questões em relação às quais toda a comunidade filosófica, ou mesmo a maioria dela, está de pleno acordo. E inclusive, ao sugerir que há algum acordo quanto a alguma coisa, ainda corro o risco de ser contestado por filósofos que tentarão me demonstrar que esses supostos acordos são apenas aparentes, e que no fundo deles há sempre algum desacordo, algum ponto essencial de discussão e debate. Há também filósofos que digam o contrário? Que digam que os desacordos é que são aparentes e por debaixo deles há acordos profundos que não estão sendo percebidos? Sim, também existem esses filósofos. Mas para defender isso é preciso muita argumentação, muito esforço teórico (Hegel, por exemplo, foi nessa direção). Por outro lado, a predominância dos debates e desacordos entre os filósofos ao longo da história se demonstra facilmente por simples constatação, não é preciso argumentar muito.
  2. Se definir as coisas é uma das atividades dos filósofos (embora não seja a única), podemos concluir que, ao contrário do que acontece com as ciências, definir Filosofia acaba sendo parte das atividades específicas dos próprios filósofos.

Juntanto essas duas razões, o que temos como resultado? Que os estudiosos responsáveis pela definição de Filosofia são os próprios filósofos; e que portanto, para a surpresa de estudiosos de outras áreas (cientistas por exemplo), é muito difícil encontrar pontos acordo a respeito da definição de Filosofia entre os próprios responsáveis por essa definição.

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Incompetência dos filósofos? Seria, se eles pretendessem mesmo chegar a algum acordo a respeito de alguma coisa — mas será que o objetivo dos filósofos é mesmo chegar a algum acordo quanto aos seus objetos de estudo? O de alguns, certamente é, o de todos ou mesmo o da maioria, absolutamente não. E evidentemente, não se chega a acordos sozinho. Ademais, no campo da filosofia, ao contrário do que ocorre nas ciências, os objetivos variam.

Há filósofos que jamais aceitariam, em hipotese nenhuma, que o objetivo da filosofia fosse o de chegar a alguma espécie de acordo ou mesmo a alguma resposta definitiva a respeito do que quer que seja. E não é preciso buscar exemplos entre os grandes filósofos clássicos da história (embora esses exemplos existam fartamente). Um exemplo claro disto e bem mais próximo de nós neste exato momento, é o próprio João Borba, autor destas linhas que você está lendo. Trata-se de um pequeno estudioso de filosofia, sem nada de muito particularmente original, que como muitos outros em seu campo de atividade, recusa e inclusive combate a ideia de que a filosofia se dirija para grandes acordos ou para respostas definitivas; e que, pelo contrário, valoriza intensamente o debate entre projetos filosóficos divergentes e a formulação de problemas através desses debates.

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Tentar definir "Filosofia" pode ser um problema
para os professores dessa área?

Vou tentar responder à questão acima com um relato a respeito do modo como, pessoalmente, procurei lidar com isto enquanto professor de Filosofia.

Para dar prosseguimento a esse relato, é preciso deixar claro que definição de Filosofia utilizada neste site não foi colhida em manuais de filosofia nem tampouco na teoria de algum grande filósofo de renome. Foi criada pelo ilustre desconhecido João Borba, o próprio autor das linhas que você está lendo. Mas não é impossível que alguém encontre coincidências, pois não é uma definição que tenha pretensão de grande originalidade, embora pessoalmente não tenha notado algo semelhante por enquanto em lugar algum.

É uma definição que surgiu da necessidade de, como professor, tentar apresentar aos meus alunos alguma noção inicial de filosofia que fosse coerente, mas não excluísse teorias filosóficas só porque muitos não concordam com elas ou porque não têm sido tradicionalmente consideradas no Brasil as mais importantes — inclusive porque tenho apreço especial por por certas teorias bem pouco divulgadas e conhecidas no Brasil (muito injustamente, a meu ver).

Precisava conciliar a rápida menção a essas teorias pouco divulgadas, e que precisam ser conhecidas, assim como o meu o sincero e explícito posicionamento em favor delas, com o fato de no entanto estar ensinando muito mais a fundo outras teorias, e inclusive valorizando os mais fortes argumentos que elas apresentam. Teorias com as quais inclusive absolutamente não concordo em quase nada (como a de Platão). Ocorre que, como professor, não posso me desviar, em função dessas preferências —que afinal são pessoais e talvez mais questionáveis —, de uma seleção de "grandes filósofos" que já é mais ou menos padronizada nos meios acadêmicos nacionais, e que os alunos realmente precisam conhecer, bem e a fundo, para não terem uma formação alienada desses padrões, que são os vigentes.

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A maioria dos grandes filósofos tem uma concepção excludente de filosofia: quando definem o que é filosofia, fazem isso já inseridos no debate com outros filósofos, e muitas vezes procurando excluílos, como se as teorias deles não fossem sequer dignas de serem consideradas legitimamente "filosóficas". A filosofia não pode ser um simples "vale tudo" inconsequente, daí a necessidade de definições que sirvam como critério para definir o que é e o que não é legitimamente filosófico.

Mas se logo de saída, para principiantes em uma sala de aula, trabalhamos sem questionamento com uma concepção muito restrita, muito excludente, desenvolvida por algum filósofo em particular, isso pode prejudicar a abertura dos alunos para a recepção de teorias como as excluídas por essa definição, abertura que é importante pelo menos nesse início dos estudos filosóficos, em que eles ainda não conhecem o suficiente para uma tomada de posição muito bem fundamentada. É talvez por isso que tantos professores, ao invés de começarem por um esforço de definição da filosofia, procuram apenas esclarecer o sentido original da palavra "filosofia", e descrever o processo de aparecimento dessa atividade na Grécia de sete séculos antes de Cristo.

É um bom caminho. Bastante sensato. Mas se tornaria muito mais interessante se fosse complementado, com toda sinceridade e transparência, pelos devidos esclarecimentos acenca das dificuldades em torno da definição de "Filosofia", e por um real esforço filosófico, realizado diante dos alunos e em diálogo com eles, no sentido de realmente formular uma primeira definição provisória, para ir sendo rediscutida ao longo do curso e conforme os conhecimentos deles forem avançando.

Foi para lidar com esses problemas pedagógicos no ensino de filosofia que acabei por formular, então, a definição provisória e inicial que se segue. Mas ela acabou tomando corpo cada vez mais densamente em meus estudos pessoais, até fazer sua aparição maior na formulação deste site.

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Como este site se posiciona em relação aos intermináveis debates filosóficos?

Muitas vezes se fala dos debates filosóficos como se fossem "intermináveis", e se diz isso pretendendo desvalorizar a filosofia. Pois bem: este site defende os "intermináveis debates filosóficos" como justamente aquilo que a filosofia tem de melhor. Procura inclusive considerar a própria Filosofia acima de tudo como um grande campo de debates, debates que, inclusive, atravessam todas as outras áreas, todos os demais campos das atividades culturais e intelectuais humanase defende a ideia de que esse aspecto da Filosofia deve ser valorizado, ampliado, aprofundado e até mesmo radicalizado, que a filosofia deveria ser tratada sim, sempre desta maneira.

Se pensarmos nessa noção de campo de debates, podemos dizer que, segundo esse ponto de vista, os acordos entre os filósofos, se e quando possíveis, devem servir como meros instrumentos para o incentivo aos debates, ou para ajudar a cultivar os assuntos de Filosofia justamente deste modo — como campos de debate — e nunca como objetivos finais ou respostas definitivas.

Em função disto, a definição de filosofia que pode ser feita aqui é necessariamente apenas uma hipótese aberta à discussão e ao debate. Mas pode ao mesmo tempo procurar firmar-se um pouco mais do que isto, na medida em que sirva como bom intrumento para ajudar no cultivo do próprio campo de debates filosófico.

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Não será uma definição "profunda" ou que vise localizar "a verdadeira essência" da filosofia... ou algo assim. Será construída com base em constatações simples a respeito das atividades facilmente observáveis e mais habitualmente praticadas pelos filósofos dos mais variados posicionamentos. E tentando evitar a exclusão de qualquer corrente de pensamento reconhecida como filosófica na comunidade mundial dos filósofos — ao contrário do que costuma ocorrer coma as definições que procuram mergulhar na busca de alguma "essência" da filosofia (como por exemplo a de Platão, que exclui os Sofistas da sua definição de "filósofo").

A definição colocada a seguir procurará na medida do possível acolher, e não excluir, mas acolher de modo a reafirmar a condição de campo de debates (bem mais do que de acordos) que se constata na história da filosofia.

É claro que o custo disto será o de uma definição que para muitos (por exemplo para seguidores de Platão) parecerá superficial. E é claro também que, mesmo assim, ela não escapará de críticas, entre os que chegarem a examiná-la de perto — o que não é tão grave, porque pretende firmar-se apenas o suficiente para ajudar justamente no cultivo dos debates, como uma ferramenta.

Por outro lado, é uma definição que pretende ser útil para professores de filosofia, como uma possível maneira de se entrar no assunto.

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Qual é a definição de Filosofia com a qual este site trabalha?

Em sua fórmula mais resumida e em linguagem simples, a definição é a seguinte:

 

1. Filosofia é uma forma de estudo ou trabalho mental que não se define por aquilo que estuda ou que é objeto desse trabalho mental, mas pela criação e pelo debate histórico de diferentes abordagens teóricas pelas quais se pode captar, compreender, criticar ou interpretar aquilo que é objeto da nossa atenção, em todas as áreas e inclusive na vida diária.

2. Isto implica um certo tipo de atitude diante de tudo com o que temos contato na nossa existência, incluindo teorias de qualquer espécie. Uma atitude que envolve um certo estranhamento crítico e argumentativo em relação a tudo o que estiver sob exame filosófico — mesmo que seja algo com que temos um contato muito habitual. Essa atitude já pode estar presente, inclusive acompanhada de reflexões de tipo filosófico e mesmo de argumentos (portanto já com os rudimentos de uma "teoria"), em pessoas que nem sequer conhecem o termo "filosofia". Qualquer leigo no assunto pode ter, portanto, o que podemos chamar de uma "protofilosofia". Alguém com bom conhecimento de história da filosofia, um professor por exemplo, pode inclusive ajudar o leigo a mapear suas próprias ideias e reflexões protofilosóficas.

3. Por "debate histórico", deve-se entender que, para o debate, cada abordagem conta não apenas com outras abordagens contemporâneas a ela, mas tem à disposição também o acervo crescente (ou variável, porque há teorias que são esquecidas em certas épocas) das abordagens teóricas já criadas no passado, na própria história dos debates filosóficos. A criação de novas abordagens deve sempre considerar esse repertório de abordagens já existente (inclusive, se for o caso, vasculhando teorias que foram esquecidas e praticamente se perderam no tempo).


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Toda teoria filosófica é uma composição ou decorrência de pensamentos historicamente anteriores, e que podem ser mapeados — o que vale também para os pensamentos protofilosóficos de um leigo. Mas além disto, os pensamentos filosóficos ou protofilosóficos podem decorrer também diretamente de fatos, vivências ou situações, quando examinados de modo filosófico — e isto inclui fatos, vivências e situações indiretos, ocorridos no passado e aos quais se tem acesso por registros históricos ou pelas marcas do passado no presente. A desconsideração do acervo histórico das teorias já existentes tende a enfraquecer drasticamente qualquer formulação filosófica (embora isso seja apenas uma tendência muito forte, e não uma regra absolutamente necessária e incontornável).

4. O acervo de abordagens filosóficas já criadas conta também com ideias que originalmente não eram filosóficas, mas que foram trazidas de outras áreas de atuação (política, religião, cosmovisões orientais, ciências humanas, exatas ou naturais etc). E a referência a elas é uma possibilidade sempre em aberto no momento da criação de novas abordagens.

Tais ideias extrafilosóficas são extraídas de suas fontes originais e incorporadas pelos filósofos em alguma abordagem filosófica particular. Ou são até mesmo adaptadas em conjunto, como um todo ou corpo inteiro de ideias, de modo a poderem entrar no debate filosófico nas mesmas condições das demais abordagens teóricas, cumprindo a partir daí (ao menos enquanto são discutidas de um ponto de vista filosófico) as mesmas exigências que esse debate histórico impõe às demais — sob pena de não resistirem ao próprio debate, ou de serem ignoradas pelos debatedores e acabarem esquecidas como filosoficamente irrelevantes. Um exemplo de teoria extrafilosófica incorporada no século XXI: a Psicanálise, que a certa altura passa a constar em manuais de história da Filosofia em todo o mundo, às vezes com um capítulo inteiro dedicado a ela.

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5. A qualidade ou valor de uma teoria filosófica varia com o tempo e de sociedade para sociedade. Depende de muitos fatores, mas os principais são: a) a importância que as questões tratadas e o seu modo de tratamento pela teoria têm para sociedade, segundo a avaliação da própria sociedade (isto é, segundo o interesse que despertam na sociedade) e também segundo a avaliação da comunidade filosófica local e mundial; e b) a resistência que a teoria em questão oferece no debate filosófico quando confrontada (historicamente inclusive) com outras teorias, em função dos argumentos levantados por ela, ou idaqueles que já estão de algum modo implicados nela e que se podem ser levantados em seu favor.

 

Esta é, resumida e aproximadamente, a definição a que cheguei e com a qual tenho trabalhado há anos inclusive em sala de aula, como professor — tomando-a sempre como um princípio metodológico para o cultivo da filosofia enquanto campo de debates, e ao mesmo tempo como uma definição que procura seguir o difícil (senão impossível) critério da não-exclusão de teorias reconhecidas como filosóficas pela comunidade mundial dos filósofos.

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Como a definição de filosofia com que este site trabalha se posiciona
em relação às outras definições que existem?

Há estudiosos de filosofia que se debruçam sobre a ideia de uma certa "eternidade" da atitude filosófica, das grandes questões examinadas pela filosofia, ou até mesmo das maiores realizações filosóficas atingidas. Como se algo na filosofia fosse intrínseco à própria natureza humana e permanecesse necessariamente enquanto a espécie humana continuasse existindo, ou ainda como se a filosofia pudesse captar ou atingir verdades de tal modo absolutas que jamais seriam superadas ou esquecidas. Outros procuram demarcar o caráter estritamente histórico e social da atividade filosófica, encarando-a como construção humana que teve suas origens historicamente registradas e terá talvez, também, o seu fim em algum momento no futuro da humanidade, mudando inclusive de caráter ao longo da história. Um terceiro caminho, pragmático, pensa na filosofia como apenas um modo de procedimento, uma ferramenta intelectual útil para pensarmos questões atuais.

Os defensores de alguma "eternidade" na filosofia não conseguem dar conta satisfatoriamente do fato de essa atividade ter sua história datada e geograficamente situada na história mundial.

Os historicistas, por outro lado, tendem a limitar cada teoria filosófica à sua época e ao seu contexto histórico particular, como se os textos filosóficos não passassem de registros do que se pensou naquele contexto; e com isso não conseguem explicar o fato de os filósofos sempre se utilizarem — e com resultados muito fecundos — das teorias antigas para tratar de assuntos atuais. Constroem uma imagem mais humana da filosofia, menos sujeita às pretensões universalistas e transcententes, às vezes até mesmo pateticamente divinizantes, que os primeiros tendem a alimentar.

Mas a imagem que esses historicistas constroem da filosofia é também, quase sempre, a de uma filosofia morta, encarada como um resquício do passado, ou — para usarmos uma terminologia já praticada por professores de filosofia da Universidade de São Paulo quanto a este assunto — uma filosofia que não passa de uma "sucessão de cadáveres ilustres".

Os pragmáticos, por sua vez, conseguem construir uma filosofia viva, mas o custo é prendê-la aos limites estreitos do atual, esquecendo o repertório histórico e, por isso mesmo, repetindo incessantemente de modo superficial e medíocre o que já foi inúmeras vezes realizado na história da filosofia.

A concepção de filosofia utilidazada neste site pretende, sem ser de modo nenhum "eclética", dar conta de superar os limites de todas essas correntes.

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A definição de filosofia proposta no site vai mais longe
do que os 5 pontos apresentados nesta página?

Poderia me estender bem mais na formulação dessa proposta.

A definição de filosofia aqui adotada prossegue, em suas versões menos resumidas, com o exame do que se pode constatar acerca das exigências que, época após época, vão sendo impostas às abordagens filosóficas naturalmente  pelo próprio debate histórico, para que sejam aceitas como filosoficamente válidas nas comunidades filosóficas locais e na comunidade filosófica mundial como um todo, e das exigências pelas quais vão sendo avaliadas nessas comunidades como teorias "mais importantes" ou "menos".

O exame dessas constatações parte de perguntas como, por exemplo: quais as exigências inscritas no próprio funcionamento natural do debate histórico filosófico que, pelas formas que o debate assume em cada época, podem conduzir, ou ajudar a conduzir, uma determinada filosofia à condição de um grande "clássico" mundialmente reconhecido?

A definição se estende ainda por muitas outras constatações e descrições fenomênicas enfocando aspectos específicos no conjunto das atividades intelectuais habituais do filósofo, em diferentes direções; e levantando diferenciais em relação a outras áreas de atuação humanas, além das ciências. Mas para o efeito de uma primeira definição básica como ponto de partida, que é o que se pretende aqui, a versão resumida já basta.

É claro que está colocada aqui em uma formulação bastante precária. Mas espero que ainda assim útil.

Ofereço-a aos meus colegas professores de filosofia, como um possível ponto de partida para a discussão em sala de aula, junto a principiantes. Ofereço-a também, caso desperte algum interesse, à comunidade filosófica em geral, para apreciação e debate.

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