Pesquisa & Texto da autoria de João Ribeiro de A. Borba
Dez/2020
sumário
Antonio Gramsci, ideólogo político que chegou a ser um dos líderes do PCI - Partido Comunista Italiano, na verdade fez críticas importantes ao marxismo tradicional.
Uma delas foi a crítica à ideia de Marx de que haveria uma “base” ou “infraestrutura” econômica mais importante que todo o resto — arte, cultura, valores, costumes, educação, política, religião etc. — e de que todo esse resto seria apenas uma “superestrutura”, apoiada nessa base e dependendo dela para existir e para ser como é. Para Gramsci, a “superestrutura” seria tão importante quanto a “infraestrutura”, todos os fatores da sociedade, econômicos ou não, estariam agindo juntos alguns contribuindo para aumentar a exploração e as desigualdades entre pobres e ricos outros para combatê-las.
Faz parte dessa valorização da superestrutura uma postura anti-cientificismo e anti-positivismo adotada por Gramsci. Não quer dizer que ele fosse contra a ciência ou qualquer bobagem assim, mas que –– influenciado provavelmente por Benedetto Croce –– não considerava o próprio marxismo como uma ciência que fosse acumulando verdades definitivas sobre a realidade social e econômica.
Gramsci considerava um erro de interpretação a ideia comum entre os marxistas de que, para Marx, valeria o economicismo, com etapas histórico-econômicas predeterminadas e com um destino histórico predeterminado que levaria as sociedades ao desenvolvimento do capitalismo e depois à sua superação revolucionária.
Para ele, acima do economicismo (tão valorizado pelos stalinistas) valia o historicismo (posição mais próxima daquela dos trotskistas). O historicismo reforçava as diferenças e peculiaridades de cada contexto histórico, e Gramsci considerava o marxismo uma linha de pensamento capaz de captar “a verdade particular” de cada contexto histórico –– não alguma verdade científica atempora, superior e definitiva.
Gramsci foi muito criticado entre outros marxistas por esse posicionamento, que era visto como uma espécie de relativismo.
Outra crítica importante realizada por Gramsci foi a que dirigiu contra o modo como os marxistas tradicionais costumavam tratar as organizações da sociedade, como se só pudessem ser estatais ou privadas — o que Gramsci observou que evidentemente não corresponde à realidade. Existem sempre numa sociedade muitas outras formas de organização que não são nem estatais nem privadas e que não podem ser simplesmente ignoradas ou desconsideradas, como instituições, sindicatos, agremiações, associações de moradores, ONGs etc.
Segundo Gramsci, toda a sociedade civil organizada precisaria ser levada em conta quando se fala na compreensão das condições sociais, e também quando se fala em luta de classes e estratégias de ação política.
Desse ponto de vista de Gramsci deriva o que ficou conhecido como “marxismo cultural”, a ideia de que se os valores conservadores e reacionários que defendem a desigualdade e a exploração são difundidos através da cultura, por outro lado os valores do comunismo também poderiam ser difundidos através da cultura e das artes, trazendo a luta de classes para dentro desses campos.
Gramsci, neste sentido, fala de condições em que existe hegemonia cultural da classe exploradora, e situações em que a classe explorada vence essas condições e estabelece sua própria hegemonia cultural.