Martelo das feiticeiras

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Kramer, Heinrich; Sprenger, James / 1995

livro

Breve apresentação de
Martelo das feiticeiras

 

Este livro tão interessante quanto assustador nasceu do conflito religioso da Igreja Cristã medieval (católica apostólica romana) com outras religiões. Principalmente com o paganismo greco-romano e o dos povos bárbaros do norte da Europa.

Essas formas de paganismo podem ser compreendidas grosso modo como um conjunto de crenças mágicas e místicas da antiguidade, que valorizavam a mãe natureza como se o mundo material (natural) estivesse carregado de várias forças divinas. Era um paganismo que, apesar de abafado pela força da fé cristã, continuava presente meio misturado com ela, na mentalidade do povo camponês –– que vivia em contato com a terra e as coisas da natureza.

O martelo das feiticeiras (na versão original em latim, “Malleus Maleficarum”) foi escrito em 1484 –– ou seja, bem no final da Idade Média –– por dois Inquisidores. Portanto, por dois membros da ala mais conservadora e agressiva da Igreja. Os inquisidores eram responsáveis por perseguir, prender, interrogar, torturar e matar aqueles que fossem acusados de se desviarem dos “bons ensinamentos cristãos” — em geral mulheres que aprendiam a mexer com ervas e poções para fazerem remédios, e que por isso eram acusadas de “bruxaria” e de prestarem devoção a “demônios”, a “satanás” etc.

Esse documento de 528 páginas em latim, escrito pela própria Inquisição na Idade Média, que chegou até nós e recebeu uma tradução para o português, mostra minuciosamente coisas que eram consideradas “sinais seguros” de que uma pessoa estava ligada à feitiçaria e a forças demoníacas — sinais apresentados pelos acusadores como “provas” definitivas de culpa, em tribunais nos quais não havia advogado de defesa.

Mostra também minuciosamente as torturas recomendadas para arrancar uma confissão em cada caso ou para, depois, ir “purificando” aquela alma através da dor até a morte. Esses “sinais” são coisas como pintas, manchas ou marcas de nascença na pele, e outras do gênero. E o fato de os sinais nunca serem muito claros era interpretado como parte dos “disfarces dos demônios” para se esconderem e não deixarem a Igreja perceber facilmente a ligação deles com a pessoa acusada.

Na verdade, dificilmente uma pessoa acusada se livraria da condenação, mesmo que tivesse sofrido uma
denúncia anônima e sem nenhuma prova. Com a pessoa despida e torturada, os inquisidores acabavam encontrando alguma coisa no corpo dela que servia como “sinal” e “prova” da ligação com os demônios.

Muitas vezes as pessoas presas e condenadas pela Inquisição eram membros da própria Igreja que tinham uma mentalidade mais aberta e haviam defendido a abertura dos conhecimentos e estudos para uma parte maior da população. Mas a maior parte das vítimas da Inquisição era formada por pessoas suspeitas de manterem alguma ligação com as antigas religiões pagãs. Pessoas que acreditavam em várias forças divinas presentes na própria natureza ao invés de um só deus acima dela em um plano puramente espiritual.

Essas forças divinas da natureza, das religiões pagãs e mágicas, eram classificadas pela Igreja cristã medieval como “demônios”, e declaradas “forças do mal”.

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