(Reich)
Reich
(1897 - 1957)
Pesquisa & Texto da autoria de João Ribeiro de A. Borba
Jan/2021
sumário
Wilhelm Reich foi um seguidor de Freud com ideias originais, que valorizou (e descobriu) relações íntimas entre o inconsciente, a personalidade e o corpo. E procurou combinar as ideias freudianas com as de Marx.
Simplificando bastante, Freud dizia que somos movidos por dois impulsos básicos que atuam em conjunto e geralmente misturados um ao outro: o impulso erótico (de busca de prazer, em especial o prazer sexual) e o impulso thanático (impulso mórbido, de busca de destruição).
Para Freud, era preciso conter esses impulsos pela força do “ego” (“eu”) consciente. Sem isso cairíamos na selvageria e na barbárie. Mas por outro lado, o excesso de controle, vindo não do ego mas do superego (das estruturas sociais, externas a nós), seria igualmente prejudicial, reprimindo energias que poderiam e deveriam ser direcionadas para práticas saudáveis e úteis.
A diferença teórica mais marcante entre Reich e seu mestre Freud é uma das mesmas que já haviam aparecido antes entre Freud e outro discípulo genial: Otto Gross. Trata-se do seguinte: para Reich (assim como antes dele para Gross), o único impulso que realmente nos move no início é um impulso construtivo –– para Gross, o impulso de exprimir sua individualidade autêntica e única, para Reich o próprio impulso erótico. O impulso destrutivo, para ambos os autores, é um produto da repressão social que vem depois –– a começar pela ação repressora dos pais.
Segundo Reich, a repressão dos pais sobre a criança é continuada e amplificada ao longo da vida de um lado pelas repressões e limitações impostas pelo modo de vida burguês e capitalista, de outro lado pelas imposições do Estado, ainda mais no caso dos estados ditatoriais e totalitários.
Segundo Reich, o capitalismo se alimenta do estímulo incessante do desejo sexual reprimindo sua realização e satisfação e direcionando-o para a compra e o consumo de produtos (como se isto fosse satisfazer o desejo, que na verdade só pode ser satisfeito pelo sexo).
Neste sentido, tanto o capitalismo quanto os regimes totalitários passam a figurar como graves patologias sociais, que precisam de cura.
A cura está, basicamente, na liberdade sexual.
Para Reich não se trata apenas de lutar por liberdade sexual contra os repressores: os próprios repressores são pessoas reprimidas e doentes, que precisam de cura, e portanto, de muito sexo praticado com a maior liberdade possível… no entanto seria preciso primeiro romper as barreiras culturais, morais, psicológicas e até mesmo físicas colocadas e sempre reafirmadas por esses mais reprimidos para si mesmos e para os demais.
Reich fundou, em 1929, a Sociedade Socialista para Consulta Sexual e Investigação Sexológica, e em 1931 criou a “Berlim Sexpol”, desenvolvendo um trabalho sócio-político e psicológico com a juventude operária alemã, visando ampliar a luta do proletariado avançando da emancipação econômica e política para a emancipação sexual.
A intenção de fundir as ideias de Freud com as de Marx acabou deteriorando as relações de Reich com seu mestre Freud e com os freudianos em geral.
Em 1933 Reich publicou Análise do Caráter. Publicou também Psicologia das Massas do Fascismo, com suas críticas aos regimes totalitários, que apesar de focalizarem especialmente regimes de direita como o nazista e o fascista, acabavam atingindo também os regimes totalitários comunistas. E então foi expulso do Partido Comunista.
Com o avanço do nazismo, Wilhelm Reich teve que fugir da Alemanha para a Dinamarca, e depois para a Noruega.
Na Universidade de Oslo (Noruega), desenvolveu uma pesquisa clínica e experimental sobre a dinâmica biopsíquica das emoções, com a qual descobriu o fenômeno da formação das “couraças” no corpo. Então passa a falar do caráter como uma “couraça muscular”, um enrigecimento do corpo, que precisaria ser “curado” por meio de massagens e terapia física de caráter sexual –– o que mobilizou fortes preconceitos sociais contra ele.
Os caminhos de Wilhelm Reich o levaram a ser arrastado para a marginalidade por uma forte onda internacional de preconceitos.
Em 1934 foi finalmente expulso da Sociedade Freudiana e da Associação Psicanalítica Internacional, que temiam ficar marcadas pela aproximação com o comunismo (para não dizer do anarquismo) promovida por Reich. Em 1937 teve início uma campanha dos jornais noruegueses contra Reich.
Por fim, em 1939 teve que se retirar do país e aceitar o convite de um importante pesquisador de Psicossomática (Theodore Wolfe) para ir aos Estados Unidos. Mas em 1941 o FBI começou a investigar Reich como possível ativista subversivo, por causa de suas pesquisas a respeito da energia ddispensada pelo corpo humano durante o orgasmo. A suspeitas acabaram divulgadas, com o crescimento de uma forte campanha na mídia contra ele, manchando-lhe o nome, até que acabou preso numa penitenciária federal.
