Tópicos de vida e obra de Rosa Luxemburgo

Pesquisa & Texto da autoria de João Ribeiro de A. Borba

Jan/2021

 

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Luxemburgo: paixão revolucionária
em uma economia marxista anarquizante

 

Quem foi Rosa Luxemburgo?

Rosa Luxemburgo foi a responsável por uma interpretação heterodoxa e bastante original do pensamento de Karl Marx. Ela foi uma economista polonesa que atuou fortemente na Alemanha participando de um grupo que ficou conhecido como Liga Espartaquista. Apesar de aceitar a dialética materialista de Marx, Luxemburgo escreveu um livro bastante famoso e polêmico — “A acumulação do capital” — onde fazia críticas a uma porção de passagens da teoria econômica original dele, mostrando problemas mal solucionados e propondo soluções melhores.

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De que tipo eram as críticas de Rosa Luxemburgo a Marx?

Como fazia isto sem sair dos princípios básicos do próprio Marx, pode-se dizer que o que fez fez uma crítica interna a Marx, mostrando falhas dentro do próprio raciocínio do mestre quando se segue a própria lógica dele. Por isto mesmo, sua teoria foi considerada de extrema ousadia pelos marxistas, e houve aqueles que a sentissem como uma ofensa, ou a criticassem como se fosse uma má compreensão do mestre Marx.

Atualmente ainda há economistas marxistas que consideram a maioria de suas críticas equivocadas, mas há também economistas (muitos marxistas, outros não) que consideram suas formulações econômicas melhores que as originais do próprio Marx, do ponto de vista técnico e científico. Luxemburgo é mais cuidadosamente lida e considerada pelos marxistas na medida em que reconhecem que seus desenvolvimentos não ferem os princípios do próprio Marx e assumem que Marx, ele próprio, aceitava que sua teoria viesse a precisar de correções.

De qualquer modo, há um ponto em que Luxemburgo parece ter surpreendido a todos com uma análise especialmente profunda e consistente: ela mostrou mecanismos pelos quais o capitalismo conduz necessariamente à exploração econômica de países periféricos pelos países economicamente mais ricos, e com base nisto construiu, junto à sua Liga Espartaquista, uma forte crítica ao imperialismo econômico.

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Quais as ideias mais originais de Rosa Luxemburgo?

Para compreender a originalidade de Rosa Luxemburgo, vale a pena cotejar o livro “A acumulação do capital” com um outro menos conhecido e menos valorizado da autora, mas nem por isso menos importante: “Introdução à Economia Política”. Nele a autora deixa claro seu posicionamento contra o etapismo — contra a ideia de que haveria etapas de desenvolvimento econômico que iriam sendo ultrapassadas até o capitalismo avançado.

Pelo contrário, segundo ela o desenvolvimento do capitalismo, graças ao mercado mundial, ao colonialismo e ao imperialismo econômico, difundiria pelo mundo formas pré-capitalistas (ou mais propriamente “não-capitalistas”) de organização econômica, que continuariam existindo paralelamente a ele. Mesmo antes da consolidação do capitalismo, segundo ela, nunca houve um modo de produção único em todo o mundo, sempre houve a convivência (tensa) do capitalismo com outras formas de produção, muitas delas de perfil socialista.

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E mais do que isso, o próprio sistema capitalista de mais-valia exigiria, para a reprodução das condições de vida dos trabalhadores, a manutenção e exploração de formas de organização econômica não-capitalistas nos meios camponeses e na produção artesanal — exploração que vai sendo conduzida até a redução desses sistemas à miséria e à absorção.

Para Rosa Luxemburgo o capitalismo convive então com uma imensa multidão de diferentes pequenos sistemas de produção não-capitalistas (por exemplo formas de comunismo primitivo camponês ou indígena), constantemente destruindo e recriando esses pequenos sistemas em sua periferia, pequenos sistemas que procuram resistir ao seu consumo pelo sistema capitalista maior.

A própria pressão da mais-valia provoca o aparecimento de novos sistemas de resistência anticapitalista dos trabalhadores, com formas alternativas de organização, por uma questão de sobrevivência. E o capitalismo então se utiliza desses sistemas “externos” como forma de reprodução de sua mão-de-obra “interna”, explorando como uma máquina de consumo a produção desses sistemas sem remunerá-los o suficiente.

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A existência de sistemas não-capitalistas junto ao capitalismo
está ligada à teoria de rosa Luxemburgo sobre o imperialismo?

Esses sistemas não-capitalistas explorados pelo capitalismo, segundo Rosa Luxemburgo, tendem a se distribuir territorialmente nas periferias dos grandes centros capitalistas — noção que serve às análises que Rosa Luxemburgo faz do imperialismo e de distinções como as que hoje fazemos entre “primeiro” e “terceiro” mundo, examinando o que chamaríamos de “focos de primeiro mundo” dentro de países em que as condições dominantes são de “terceiro mundo”.

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Rosa Luxemburgo era nacionalista ou internacionalista?

Luxemburgo se posicionou em favor de uma luta revolucionária em nível internacional e não concentrada em um ou outro país isoladamente, menos ainda em partidos políticos.

A crítica de Luxemburgo contra os partidos políticos, contra tomada do poder do Estado e contra a formação de um aparelho burocrático ditatorial levou Lênin a escrever e publicar respostas contra ela.

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As posições de Rosa Luxemburgo se aproximam do anarquismo?

Dentro dos diferentes países, Luxemburgo defendia que a revolução comunista, com a tomada dos meios de produção pelos trabalhadores, ocorresse de baixo para cima através de mobilizações sociais e greves gerais, até uma grande greve geral revolucionária final — o que exigiria um trabalho intenso de organização de grupos autônomos de trabalhadores, unindo-os cada vez mais numa luta constante contra sua absorção e institucionalização por algum partido “oficial”. Isso é uma proposta basdtante anarquizante.

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Como rosa Luxemburgo se posicionava em relação à religião?

Outra marca característica do marxismo de Rosa Luxemburgo é seu posicionamento diferente em relação ao cristianismo. Marx considerava as religiões como “ópio do povo”, instituições alienantes que contribuíam para manter a exploração capitalista dos trabalhadores.

Luxemburgo pelo contrário considerava o cristianismo, enquanto religião, como uma forma simplificada do próprio comunismo. Para ela, Cristo e seus seguidores eram uma espécie de comunistas, pregando a liberdade e a igualdade nos tempos antigos. Toda a sua crítica nesse sentido se dirigia apenas contra as igrejas. A Igreja cristã segundo ela teria deturpado os ensinamentos cristãos originais e se colocado a favor da exploração capitalista.

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Como ficaram conhecidos os seguidores de Rosa Luxemburgo?

Toda essa corrente marxista, com os diversos traços caracterizados acima — em especial aqueles referentes às análises de relações internacionais e às propostas de uma luta revolucionária não-partidária — pode ser chamada de “luxemburguismo” ou de “espartaquismo”.

 

Como rosa Luxemburgo morreu?

Rosa Luxemburgo morreu aos 46 anos de idade, fuzilada pela polícia por suas atividades revolucionárias, e seu corpo foi jogado em um rio.

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