(Lenin)
Lenin
(1870 - 1924)
Pesquisa & Texto da autoria de João Ribeiro de A. Borba
Jan/2021
sumário
Lenin foi um grande economista, ideólogo e lider político marxista, mas não um filósofo.
Marx sim, além de líder e ideólogo político, foi filósofo, historiador, sociólogo, economista e, pode-se dizer, cientista político –– e grandioso em todas essas atividades. Não se pode dizer o mesmo de Lenin, que foi antes de tudo um de seus seguidores –– mas não teve a estatura de um filósofo, nem de um grande sociólogo ou historiador, limitando-se nestas áreas a leituras e interpretações pouco originais do próprio Marx.
Foi sim um grande líder político e uma forte e competente liderança econômica, mas inclusive não chegou a desenvolver exatamente uma teoria econômica própria e realmente original, fazendo mais do que isto uma adaptação de Marx para os problemas reais de uma sociedade como aquela em que procurava promover uma revolução comunista. Nesse trabalho de adaptação, chegou a burlar algumas das diretrizes originais de Marx e aceitar a influência de estruturas capitalistas de gerenciamento de instituições econômicas. Mas o resultado prático foi bastante eficiente.
O que o coloca em condições de ser apresentado neste site, ao lado de grandes pensadores, é principalmente o fato de ter deixado sua marca (uma marca forte) na história das diferentes variantes e vertentes do pensamento marxista. E esta marca está acima de tudo na sua orientação política da facção bolchevique no partido revolucionário russo e depois soviético, em oposição à facção menchevique que era bem diferente. A compreensão do modo como Lenin procurou adaptar Marx à sua realidade ajuda a compreender essa facção bolchevique, e a compreensão dessa fação bolchevique ajuda a compreender um capítulo importante da história do marxismo. Nosso interesse repousa aqui: no fato de que o marxismo, por sua vez, inclui toda uma diversidade de filosofias inspiradas direta ou indiretamente em Marx.
Lênin (1870-1924), o principal líder dos bolcheviques, foi o grande idealizador da Revolução Russa. Talvez a principal marca de sua liderança, e também uma das suas diferenças mais marcantes em relação ao pensamento original de Marx, foi a aceitação e introdução do taylorismo no sistema de produção comunista.
O taylorismo, ou administração científica, é uma forma de gerenciamento que, basicamente, trata os trabalhadores como máquinas, dividindo também as atividades desses trabalhadores em pequenas funções super especializadas que podem ser realizadas rapidamente e repetitivamente sem reflexão ou raciocínio.
Marx jamais aceitaria isso. Considerava o taylorismo como uma forma extremamente condenável de exploração do trabalhador, que alienava o mesmo do resultado de seu trabalho. Mas Lênin estava às voltas com um problema prático: uma revolução comunista operária em um país no qual a maioria da população não era operária, e sim camponesa, um país de economia agrária e capitalismo muito pouco avançado.
O projeto de Lênin era promover um desenvolvimento econômico super acelerado do país a partir de metas rigorosas a serem cumpridas de cinco em cinco anos, e para conseguir isso, o taylorismo era necessário.
Lênin sofreu muitas críticas de anarquistas e mesmo de comunistas marxistas que não aceitavam sua proposta, que colocavam-se politicamente mais à esquerda que ele. Esses grupos mais à esquerda criticavam tanto a adoção do taylorismo quanto (principalmente) o autoritarismo do partido bolchevique (dirigido por Lênin), e no caso dos críticos marxistas, pretendiam um comunismo mais democrático. Contra essas críticas Lênin escreveu um livro chamado “Esquerdismo, a doença infantil do comunismo”.
Do ponto de vista da filosofia marxista, é de especial interesse o fato de que o confronto da facção bolchevique (ou leninista) do partido revolucionário russo e depois soviético com a facção menchevique retomou uma polêmica da filosofia do idealismo alemão de aproximadamente um século antes. A questão é a seguinte: quem é mais fiel ao pensamento original de um filósofo: aquele ortodoxo que segue ao pé da letra o que o filósofo diz ou aquele que toma liberdades para tentar captar (e no caso adaptar a uma realidade mais atual) o espírito daquele pensamento original, resolvendo seus problemas (por exemplo para evitar que caduque)?
Lenin e os bolcheviques adotaram em relação a Marx a segunda opção, os mencheviques haviam adotado a primeira. Essa mesma questão (mas com preocupações de nível mais puramente teórico, sem o entrar tanto na questão da adaptação à realidade social) surgiu aproximadamente um século antes entre Kant e seu discípulo Fichte, que afirmava ter captado "o espírito" do pensamento kantiano melhor que o próprio mestre, que não reconhecia nem aceitava a interpretação fichteana de seu pensamento.
Fugir do apego ortodoxo ao texto do pensador original envolve o risco de interpretá-lo de maneira errada, enquanto ficar na compreensão ortodoxa e literal envolve o risco de se estar fazendo uma leitura superficial do filósofo original, sem captar o verdadeiro "espírito" da coisa.
