Tópicos de vida e obra de Althusser

Pesquisa & Texto da autoria de João Ribeiro de A. Borba

Jan/2021

 

Sumário

Althusser: o marxista que trocou a dialética pelo estruturalismo,
deixando patra trás o jovem Marx e o hegelianismo
em favor apenas do Marx maduro

 

Como Althusser passa da dialética para o estruturalismo?

Ao contrário de Lúkacs, Althusser considera a obra de Marx claramente dividida em duas fases. A fase de juventude, marcada por influências da dialética de Hegel e Feuerbach, em que o pensamento vai se movendo de contradição em contradição. E a fase de maturidade — como no famoso livro  O Capital — em que o pensamento de Marx estaria organizado de uma maneira não exatamente dialética, e sim “estruturalista”. Para Althusser a produção de maturidade de Marx é toda uma construção de estruturas de pensamento combinadas umas com as outras livro após livro, e muitas vezes umas dentro das outras.

Adotando uma postura estruturalista muito em voga na sua época, Althusser diminuiu o valor das obras de juventude de Marx em favor dessas obras de maturidade, e as leu segundo os cânones do estruturalismo: retirando delas toda a influência hegeliana que outros estudiosos observavam como uma influência do pensamento de tipo dialético. A dialética hegeliana e marxista tem um momento de “síntese” (ou “negação da negação”) em que se capta um “todo” que, ao mesmo tempo que supera e ultrapassa as partes em oposição, por outro lado as assimila numa nova composição ou configuração.

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Em sua formação marxista Althusser, apega-se de modo reducionista e simplificador à busca de tais grandes “sínteses”. E assim, em sua leitura de Marx, ele “desliza” — ou, segundo muitos marxistas, comete um deslize — passando da complexidade da dialética e de seu jogo dinâmico de oposições, em Hegel (e no jovem Marx), para um Marx maduro tomado por um estruturalismo excessivamente rígido, pouco dinâmico e com baixa assimilação das indeterminações e das oposições da realidade social.

Indo então em direção oposta à de Lúckacs, conforme já dito, Althusser vê um “salto” do Marx dialético-hegeliano de juventude para um Marx maduro que organiza seu pensamento em diversas camadas estruturadas visando dar conta da realidade político-econômica de modo como que diretamente sintético, já sem o mesmo jogo dinâmico e complexo de oposições. E trata então de acompanhar esse salto “de amadurecimento” que sua leitura de Marx supõe, deixando para trás a dinâmica toda da dialética (como julga que o próprio Marx deixou).

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O que são os "aparelhos ideológicos do Estado" segundo Althusser?

 Althusser trabalhou muito a questão da ideologia pela qual o sistema capitalista e seu Estado mantêm as pessoas alienadas. E desenvolveu a noção de que haveria um Aparelho Repressivo — o Estado capitalista — e diversos “Aparelhos Ideológicos de Estado” a serviço dele. Esses “AIE” (Aparelhos Ideológicos de Estado) seriam estruturas relativamente autônomas, separadas umas das outras, mas atuando juntas na manutenção da exploração e da dominação.

Quais seriam esses aparelhos?

Basicamente: as Igrejas, as escolas, as famílias, as estruturas jurídicas, o sistema político com seus diferentes partidos, os sindicatos, as diferentes formas de arte e cultura (incluindo os esportes), e estruturas de comunicação e informação, como (na época de Althusser) imprensa, rádio, TV etc.
 Entre os Aparelhos Ideológicos de Estado Althusser destacava o papel das escolas e instituições educacionais em geral, fazendo uma forte crítica às formas tradicionais de ensino na sua época, que contribuiu para movimentos estudantis internacionais como aquele que teve seu ponto mais forte na França em maio de 1968.

Esse conjunto de Aparelhos Ideológicos de Estado combinados ao Estado capitalista como aparelho repressor central seria para Althusser algo tão importante quanto aquilo que os outros marxistas chamavam de “infra-estrutura” econômica. Deste modo, Althusser se aproximava até certo ponto das ideias de Gramsci.


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