Tópicos de vida e obra de Hilferding

Pesquisa & Texto da autoria de João Ribeiro de A. Borba

Jan/2021

 

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Hinferding: a economia marxista
do capitalismo rentista

 

Quem é Hilferding?

Importante referência na economia marxista, Hilferding é um marxista moderado, social-democrata, defensor do socialismo democrático e gradual, que completou e desenvolveu melhor alguns apontamentos dos livros II e III de O Capital de Marx, aprofundando o exame marxista do capital finalceiro ou rentista. Desse exame, Hilferding extraiu também uma teoria sobre o imperialismo que teve grande repercussão.

Apesar de seu posicionamento politicamento mais moderado, no campo econômico — especialmente no livro “O capital financeiro” — sua teoria foi recebida por Karl Kautsky e muitos outros como uma continuação bem-sucedida de partes inacabadas dos capítulos II e III do próprio “O Capital”, de Marx, e acabou influenciando fortemente Lênin e Bukharin. Para todos, Hilferding parecia ter decifrado o que Marx havia tentado antecipar a respeito da etapa mais avançada de desenvolvimento do capitalismo. 

Em seu livro, Hilferding toma como ponto de partida uma discussão sobre o crédito e o dinheiro, e daí avança para o crescimento das sociedades anônimas e dos cartéis, e o papel dos bancos nesse desenvolvimento, e termina com uma teoria sobre o imperialismo.

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Existem falhas na teoria de Hilferding?

A Parte inicial do livro "O capital financeiro" de Hilferding, sobre o dinheiro, tem alguns conhecidos pontos fracos, como como por exemplo ter subestimado o crédito ao consumidor, mas todas as teorias sobre o dinheiro têm apresentado pontos fracos, e a de hilferding de qualquer modo é uma das mais fortes, principalmente dentro do marxismo. 

 

Qual é o ponto mais importante observado por Hilferding?

Segundo Hilferding, o aspecto mais importante do crescimento das empesas é que o seu capital acaba se libertando da função de atuar no empreendimento industrial, e entre outras consequências surge o que Hilferding chama de “lucro lançador”: lucro com venda de ações de uma sociedade anônima recém-formada, serinvo como fonte de riqueza considerável e estimulando a formação de novas sociedades anônimas.

Por este caminho vão se formando cartéis e trustes gigantescos, que controlam ramos industriais inteiros. O capitalismo vai se desligando da função industrial de produção e depois vai avançando para a renda no campo puramente financeiro — não só deixando cada vez mais de produzir, mas também de gerar empregos.

Hilferding previu uma dependência crescente do empresariado em relação aos capitalismo financeiro dos bancos, que iria assumindo o controle, e essa previsão sofreu muitas críticas entre os marxistas, críticas apoiadas na observação dos fatos, que mostrava que a dependência oscilava e nem sempre ocorria, com os bancos assumindo em relação às empresas papéis diferentes dos previstos por ele, como por exemplo o de intermediários entre as empresas e o Estado. O próprio Hilferding acabou voltando atrás e corrigindo os excessos de suas afirmações iniciais.

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Hilferding conheceu fama em vida?

Mesmo antes do desenvolvimento desse estudo econômico no famoso livro “O capital financeiro”, Hilferding já havia ficado conhecido ao publicar uma defesa da teoria de Marx contra as críticas de Böhm-Bawerk (seguidor da teoria econômica marginalista da escola austríaca, uma linha de pensamento do capitalismo neoliberal em economia) — defesa que o famoso marxista Paul Sweezy considerou a melhor já feita.

Segundo Hilferding, o problema dos críticos marginalistas é que a teoria deles parte do exame de indivíduos, e seus defensores não compreendem que Marx, pelo contrário, parte da sociedade e das relações sociais — e derivar uma dimensão social de uma individual segundo Marx e seus seguidores é um erro. A mercadoria, para Marx, é expressão de relações sociais entre produtores mutuamente independentes, relações que se dão por meio de bens. Qualquer teoria do valor que parta do valor de uso ou a utilidade desses bens — como fazem os marginalistas — coloca o indivíduo em primeiro lugar e não capta as relações político-econômicas, que são o objeto de estudo da economia política.

Para Hilferding, em seu entendimento da teoria de Marx, “em última instância, toda mudança na estrutura social pode ser atribuída a mudanças nas relações de produção, isto é, mudanças na evolução da forças produtivas e na organização do trabalho” (“O Capital financeiro”, cap. III), e o crítico Böm-Bawerk “não vê esse nexo social” de determinação das estruturas sociais pelas econômicas.

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Hilferding era um puro teórico ou teve vida política ativa?

Hilferding teve uma vida de intensa e constante atividade política, e chegou a ser Ministro das Finanças duas vezes na Alemanha, antes do nazismo. Com a ascenção do nazismo teve que fugir para o exílio, como muitos marxistas. Mas quando estava na França, o país se rendeu aos nazistas e Hilferding, preso pelos nazistas, acabou morto. Não se sabe ao certo se ele se suicidou ou se — mais provavelmente — morreu como resultado das torturas da Gestapo.

Mais atualmente, o francês François Chesnais desenvolveu também estudos sobre o capitalismo financeiro incluindo a relação deste com as multinacionais, e se tornou bastante conhecido pela obra A mundialização do capital.

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