(Lukács)
Lukács
(1885 - 1971)
Pesquisa & Texto da autoria de João Ribeiro de A. Borba
Jan/2021
sumário
O filósofo György Lúkacs pretendia ser um marxista ortodoxo, seguir Marx à risca, na verdade queria até mesmo recuperar o sentido original da teoria de Marx contra as diferentes variações que estavam surgindo. Mas na prática acabou conhecido sempre como um marxista das alas mais radicais.
Era muito comum entre os marxistas separar a fase de juventude de Marx, ainda muito influenciada por seu mestre Hegel e pelo anarquista Proudhon, da fase madura, em que Marx se tornou mais claramente materialista e mais ligado à economia, também mais clara e acentuadamente autoritário e estatizante em seu pensamento.
Sem dar muita atenção à influência de Proudhon, Lúkacs focalizou principalmente o método que Marx aprendeu com Hegel: a dialética. É interessante notar que Lúkacs considera a obra de Marx como algo que foi se desenvolvendo aos poucos e que, por detrás de todas as alterações aparentes de uma fase para outra, estava sempre se desenvolvendo em um caminho que tem uma certa continuidade. Portanto, os pensamentos de Marx na juventude não seriam assim tão completamente diferentes daqueles da sua fase mais madura — como pretendiam por exemplo os stalinistas.
Lúkacs entendia a dialética a partir da relação entre o sujeito de um lado, e de outro o objeto que ele altera através do trabalho. Nesse processo de alteração de cada coisa por meio do trabalho, muitas outras coisas e muitas relações humanas estão envolvidas. E quando alteramos as coisas, elas também nos alteram, numa relação dialética em que mais uma vez outras coisas e muitas relações humanas estão envolvidas.
Deste modo, o trabalho — e a partir do trabalho toda a economia — acaba funcionando como mediação direta ou indireta entre todas as coisas e pessoas na vida social. Todas as relações, humanas ou não, acabam passando direta ou indiretamente pela questão do trabalho humano, tudo na existência da sociedade está de algum modo ligado ao trabalho humano e tudo pode ser entendido a partir dele.
Essa visão das coisas na qual o próprio Lúkacs chegou combinava bem com uma situação em que a sociedade estivesse toda organizada de baixo para cima a partir de grupos de trabalhadores tomando as decisões sobre as coisas. Não combinava nem um pouco com uma situação como a do stalinismo, em que todas as decisões vinham de cima para baixo, a partir de um Estado ditatorial — tudo se desenvolvendo a partir de decisões estatais e não de uma organização que emergiria a partir da própria dialética do trabalho. Por isso sua teoria entrou em contradição com sua aceitação do governo de Stalin — o que no começo não se percebia mas foi ficando cada vez mais claro.
Mais tarde um seguidor de Lúkacs chamado Mészaros mostrou com clareza essa contradição, declarando que o ponto fraco de Lúkacs foi se deixar levar pela aceitação do stalinismo, que não tinha nenhuma coerência com sua teoria.
Ficou famosa também a teoria estética (ou filosofia da arte) de Lúkacs. Segundo ele, a arte tinha a capacidade de provocar uma “catarse” emocional, ou purificação, que limparia a mente da pessoa das ilusões do fetichismo da mercadoria, ilusões fetichistas que levam as pessoas a se considerarem e se tratarem como “coisas”. O contato com a arte teria então a capacidade de trazer os sentimentos à tona, e romper com essa “coisificação” das pessoas, fazendo com que elas voltassem a se sentir como gente, e voltassem a sentir suas relações com outras pessoas como relações entre seres humanos.
